O velho Bombeiro permanecia no seu local de serviço, no quartel momentaneamente vazio, enquanto todo o Corpo de Bombeiro estava ausente num incêndio para o qual deslocaram todo o material disponível.
Enquanto lia o jornal, a sua mente voava por outras paragens e outros tempos.
Tempos em que, na plena posse das suas faculdades, enfrentava o fogo com toda a valentia, dominando as chamas a jatos de água, regressando ao seu quartel com a cara mascarada mais sorridente de orgulho.
Tempos em que conduzia os auto tanques a velocidade alucinantes pelas ruas da cidade, fazendo soar uma angustiante sirene.
Hoje, com cicatrizes marcadas a fogo no seu peito, via outros bombeiros a correr com respeito, mais muito melhor equipados, às mesmas chamas que ele em tempos apagava com os meios rudimentares de que então dispunha.
Outro tempo pensava...
De repente...
O pressentimento... Um sexto sentido que, inconscientemente, o levou a levantar – se daquela cadeira e chegar até à porta do quartel.
Havia um incêndio na vizinhança. Um incêndio localizado, é certo, mais que destruiria tudo em pouco tempo se ninguém lhe deitasse a mão.
Olhou para dentro do quartel. Não havia meios disponíveis, a na ser um velho auto tanque que ele gostava de manter limpo e funcional, não só pelo valor sentimental que para representava mais também porque lhe permitia matar algum tempo mergulhado nessa nostalgia.
Encheu o tanque de água, vestiu o equipamento anti – fogo e correu para o incêndio.
De repente, sentiu – se outro. A pé firme, o nosso homem manteve a mangueira apontada à base das chamas sem que um só músculo vacilasse.
Sentiu de novo aquela adrenalina própria dos momentos de risco.
Os seus olhos brilharam de excitação. O seu peito arfava de gozo por enfrentar o perigo.
E o sorriso... Aquele sorriso de vitória, primeiro, e orgulho, depois, assomaram à sua cara enrugada mais de feições firmes.
Dominadas as chamas e feitos os trabalhos de rescaldo, tornou de regresso ao quartel ainda vazio, onde entrou com o mesmo sorriso de antigamente iluminava a sua cara.
Arrumou o velho auto tanque no seu canto escuro... E deu uma pequena palmada no ¨capot¨, como se acariciasse um nobre cavalo.
Surpreendido, ouviu dois ou três ligeiros estalidos no motor... Como se o velho auto tanque agradecesse ter voltado a atividade, nem que fosse por poucas horas...
Com o seu sorriso de orgulho de orelha a orelha, o velho bombeiro retornou à sua cadeira e continuou a ler seu jornal.
Diário de PM/BM
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