quinta-feira, 14 de junho de 2012

Velhos são os trapos!




O velho Bombeiro permanecia no seu local de serviço, no quartel momentaneamente vazio, enquanto todo o Corpo de Bombeiro estava ausente num incêndio para o qual deslocaram todo o material disponível.




Enquanto lia o jornal, a sua mente voava por outras paragens e outros tempos.

Tempos em que, na plena posse das suas faculdades, enfrentava o fogo com toda a valentia, dominando as chamas a jatos de água, regressando ao seu quartel com a cara mascarada mais sorridente de orgulho.

Tempos em que conduzia os auto tanques a velocidade alucinantes pelas ruas da cidade, fazendo soar uma angustiante sirene.

Hoje, com cicatrizes marcadas a fogo no seu peito, via outros bombeiros a correr com respeito, mais muito melhor equipados, às mesmas chamas que ele em tempos apagava com os meios rudimentares de que então dispunha.

Outro tempo pensava...

De repente...

O pressentimento... Um sexto sentido que, inconscientemente, o levou a levantar – se daquela cadeira e chegar até à porta do quartel.

Havia um incêndio na vizinhança. Um incêndio localizado, é certo, mais que destruiria tudo em pouco tempo se ninguém lhe deitasse a mão.

Olhou para dentro do quartel. Não havia meios disponíveis, a na ser um velho auto tanque que ele gostava de manter limpo e funcional, não só pelo valor sentimental que para representava mais também porque lhe permitia matar algum tempo mergulhado nessa nostalgia.

Encheu o tanque de água, vestiu o equipamento anti – fogo e correu para o incêndio.

De repente, sentiu – se outro. A pé firme, o nosso homem manteve a mangueira apontada à base das chamas sem que um só músculo vacilasse.

Sentiu de novo aquela adrenalina própria dos momentos de risco.

Os seus olhos brilharam de excitação. O seu peito arfava de gozo por enfrentar o perigo.

E o sorriso... Aquele sorriso de vitória, primeiro, e orgulho, depois, assomaram à sua cara enrugada mais de feições firmes.

Dominadas as chamas e feitos os trabalhos de rescaldo, tornou de regresso ao quartel ainda vazio, onde entrou com o mesmo sorriso de antigamente iluminava a sua cara.

Arrumou o velho auto tanque no seu canto escuro... E deu uma pequena palmada no ¨capot¨, como se acariciasse um nobre cavalo.

Surpreendido, ouviu dois ou três ligeiros estalidos no motor... Como se o velho auto tanque agradecesse ter voltado a atividade, nem que fosse por poucas horas...

Com o seu sorriso de orgulho de orelha a orelha, o velho bombeiro retornou à sua cadeira e continuou a ler seu jornal.

ESTAVA VIVO. E TINHA CUMPRIDO O SEU DEVER, MAIS UMA VEZ.



Diário de PM/BM

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