segunda-feira, 4 de junho de 2012

SOBREVIVI...




Um jovem chegou junto do avô e perguntou.
Avô o que fizeste enquanto foste bombeiro?

Ele respondeu:



Sobrevivi.

Dia após dia, momento a momento, ingressei no corpo de bombeiros para realizar o sonho que toda a criança já teve, sem sequer ter noção do que ia enfrentar: Ser bombeiro!

Criança e bombeiro são o par perfeito. Passei dias a estudar, a aprender como combater o fogo e a utilizar a água. O curso... Ah! Saudades do curso!

Sobrevivi.

Constituí família, filhos, força, fé, coragem, amor, tudo a seu tempo; sincronizado, disciplinado e muitas vezes fui taxado de frio e calculista.

Não me entendiam e também não entendiam que a profissão me tornava assim, e que não era um defeito, e sim uma proteção.

Os anos passam rápido e com eles as histórias, muitas noites sem dormir, o calor do fogo por entre as árvores avançando de encontro à viatura, a força mansa da água envolvendo a residência tomada pelas chamas, o choro inconsolável da perda de uma história, uma biografia, e uma vida acabada em minutos.
No entanto há o reconhecimento, há o aceno das crianças em frente às escolas, as palmas após o salvamento, e até mesmo as vítimas apertam forte as nossas mãos durante o transporte, como se eu fosse o seu melhor amigo, sendo que eu a havia conhecido à poucos minutos.

E o orgulho dos filhos:

 - Meu pai é bombeiro... E os gritos das crianças!!! Liga sirene bombeiro!

Nas noites de lua cheia, com o vento a bater no rosto, enquanto nos deslocávamos para o acidente, percebia a expressão de alívio ao nos verem chegar, eram muitos os obrigados e muitas as lágrimas ao entrar na ambulância.


O silêncio impotente da perda, quando o máximo não surtia efeito, mesmo sabendo que não éramos deuses.

A vibração da guarnição ao ligarmos para o hospital e ouvirmos a frase: - Ela vai ficar boa.

Sobrevivi.

A cada experiência sem notar que estes momentos eram inéditos e que isto é ser bombeiro.

A luta contra as alturas, abraçando uma menina que caiu num poço, e quando achava que tudo estava perdido, sentia o cinto me puxando em direção ao cimo como se fosse a mão do senhor, e eu somente com uma certeza: - não a largarei.

O frio de 0º indescritível e congelante nas noites de Inverno, cortando a pele enrijecendo os membros mansamente. Os colegas que se foram, deixando as famílias esperando, pois não retornaram ao quartel.

- E o que tu fizeste avô?


Sobrevivi.

Dia após dia, com as glórias e as decepções, com as palmas e as lágrimas, fui pai, marido, amigo, bombeiro.

Muitos me chamaram de Anjo, mas não sou Anjo, sou bombeiro.

Jamais vou esquecer as pessoas dizendo “obrigado”, do choro de alívio, da sirene anunciando a nossa chegada...

E o sorriso puro e inocente das crianças, estes sim inesquecíveis. Criança e bombeiro o par perfeito.


DIARIO PM/BM

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