Por: José Ricardo
Eram 22 horas. A rapinha composta pelo Sargento Mike e pelo Soldado Brucis realizavam policiamento “reloginho” pela cidade de Samsung. Embora fosse dia de semana, a rede de rádio não calava um segundo. De repente, as tumultuadas comunicações, fruto da grande demanda operacional, foram interrompidas por uma voz ofegante:
- Central, é a viatura 77777, prioridade. Prioridade, central!
- Continue 77777.
- Peço apoio urgente, urgente, aqui na Rua San Sebastian, perto da boca-de-fumo do Miller. Vários indivíduos da quadrilha estão tentando resgatar um preso da guarnição aqui, central.
A rede tumultuou ainda mais. Todas as viaturas queriam deslocar em apoio. A rapinha do Sargento Mike abandonou o patrulhamento “reloginho” e saiu em disparada para apoiar a 77777. E saiu voando baixo, afinal, companheiros estavam em dificuldade. O que não podia era acontecer um acidente, principalmente com vítimas, nem a viatura quebrar no caminho; o sargento estava consciente disso. O resto... Sacrificou o equipamento? Sim, sacrificou, mas os policiais em dificuldade é que não podiam ser sacrificados. Dane-se o equipamento! Em primeiro lugar a vida dos policiais.
- 77777, se for preciso, mete fogo nesses vagabundos. Não apanha, não! - disse Mike na agitada rede de rádio, enquanto pilotava dirigia a viatura - Não apanha, não! Mete fogo nesses cara!
Com o giroflex e a sirene ligados, e com o Soldado Brucis com metade do corpo para fora da viatura, a rapinha comandada e dirigida pelo Sargento Mike foi uma das primeiras, ou a primeira, a chegar onde se encontrava a 77777. Os militares logo desembarcaram.
- Eles estão fugindo. Eles estão correndo. - disse Drexter, patrulheiro da 7777.
Brucis, Mike e o Soldado Gayan, da 7777, correram em perseguição aos indivíduos que haviam tentado resgatar o preso. Perseguição difícil, visto o sobrepeso dos equipamentos carregados pelos policiais. Por motivo desconhecido, durante a corrida atrás dos infratores, o jovem soldado Brucis caiu, lesionando ambos os braços, dando as primeiras gotas de sangue pela Military Police. Apesar do esforço dos policiais, os indivíduos conseguiram evadir. Nesse entretempo, outras viaturas chegaram em apoio. A união da tropa é visível nesses momentos; união que não pode acabar. Se acabar, acabou a Military Police.
A situação foi dominada, e o comandante da 7777 explicou para os demais policiais o que havia acontecido. Ele e o patrulheiro Drexter realizavam operação na Rua San Sebastian, visando combater o notório e deletério tráfico de drogas que, em decorrência da impunidade (quem poupa o lobo sacrifica a ovelha)), estava cada dia mais forte e audacioso. Durante a operação, a dupla deparou com o preso (menor), irmão do chefe do tráfico, em atitude suspeita, razão pela qual determinaram que ele parasse a motocicleta que conduzia. Ele desobedeceu e fugiu. Mas a fuga durou pouco, porque o menor perdeu o controle da moto e caiu. Os policiais desembarcaram e o imobilizaram, mas membros da quadrilha logo chegaram, investiram contra os agentes da lei e o tentaram resgatar, gerando o pedido de prioridade na rede de rádio
Com a situação já sob controle, o preso, ou melhor, o apreendido, ou melhor ainda, o menor em conflito com a lei, foi encaminhado à delegacia de plantão, onde a ocorrência foi encerrada.
No final do turno, na sede do Departamento de Polícia, quando o Sargento Mike desarmava, um policial que entrava de serviço naquele horário, sem saber de nada que acontecera na noite, falou para alguns policiais que também assumiam serviço:
- Ontem à noite, eu estava andando na rua, de folga, e uma viatura passou a mil por mim. Não tava nem aí pra quebra-molas nem nada. Passou com o giroflex e a sirene ligada... Nó! Depois o policial reclama que não tem viatura, que as viaturas estão todas quebradas. Mas eles mesmos são cupins, não estão nem aí pra viatura.
Sargento Mike ouviu calado. Não disse nada. Se o policial citasse o prefixo da viatura, ele talvez se defendesse, mas, já que não citou... Nem se sabe se a viatura que o outro policial mencionou era a dele, porque outras também deslocaram em apoio. Sendo ou não, ninguém é obrigado a criar provas contra si mesmo. Mike estava ciente de que a viatura realmente fora sacrificada. Mas dane-se a viatura! O que não pode é o companheiro ficar em dificuldade por dó de estragar um “bem do Estado”. Mike estava com a consciência tranqüila. Ficaria com remorsos se acontecesse o pior com os companheiros porque ele deslocou em apoio com escrúpulos de danificar um veículo policial, fazendo corpo-mole.
E assim o turno de serviço foi encerrado. Mike foi embora para casa, deitou-se, pôs a cabeça no travesseiro e dormiu tranqüilo, certo de que tomara procedimento correto e, se fosse preciso, faria tudo de novo, mesmo que por isso fosse punido ou tivesse que pagar por possíveis danos em patrimônio do Estado. Mas deixar o companheiro em dificuldade, jamais!
Nota: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.
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