segunda-feira, 1 de abril de 2013

A Morte Me Espera Na Esquina II



Fui jogado como um saco de batatas no porta malas do opalão. O carro começou a rodar e logo percebi, no solavanco das lombadas, que ainda estávamos na cidade. A velocidade não era alta. Creio que não queriam chamar a atenção das patrulhas. Tentei em vão, através do barulho das ruas, saber onde estávamos. Mas os putos estavam andando pelos bairros. Comecei a pensar em alternativas.

 

Consegui passar minhas mãos, que estavam amarradas com uma corda às costas, para frente do meu corpo. Levei longos minutos e um suador do caralho. Percebi que deveria fazer um regime, perder um pouco dos matambres e toucinhos que dificultaram demais meus movimentos. O próximo passo foi usar a boca para desamarrar a corda. Quem nunca foi escoteiro jamais saberá dar um nó direito, apenas nó cego.

 

Enquanto me desvencilhava da corda, pude ouvir o diálogo de dois algozes, o que me levou a crer que os outros dois não estavam presentes. Finalmente o carro parou. O motor foi desligado e os grilos se fizeram ouvir. O barulho da chave abrindo o porta malas me deixou em alerta. A pancadaria iria recomeçar.

 

- Atira! – Gritava o Secão.

 

- Não dá. Não tem bala.

 

Mal terminei de falar e vimos que da boate vinha uma turma correndo e que não eram nossos amigos. Demos meia volta e voamos em direção à minha casa com os gritos de “pega” ressoando em nossos ouvidos. Perdemos o Pompeo de vista e o Bêlo já não estava mais na esquina. Quando entramos no portão de casa, as putas estavam todas na porta querendo saber o que estava acontecendo.

- Sai da frente! – Gritei, já as empurrando para dentro.

 

Corri até meu quarto e achei um único e bendito cartucho que logo coloquei no tambor do oitão e fui até a porta. Nunca a expressão “salvo pelo gongo” fez tanto sentido. Neste caso foi “salvo pela bala”. Quando o bando já chegava a meu portão, só deu tempo de gritar “vem que tem “ e apertar o gatilho.

 

A reação foi instantânea. Freadas de tênis se fez ouvir na calçada ao mesmo tempo em que os vagos voltavam em disparada. Não perdi tempo e saltei na rua e comecei a gritar:

 

- Voltem aqui seus putos. Bichinhas de merda. Eu vou matar vocês.

 

- Mata eles cara! Mata! – gritava o Secão balançando o facão no ar.

 

Em seguida o Pompeo, acompanhado do Bêlo que estava com o olho mais roxo que casca de berinjela, apareceram dentro de uma viatura.

 

- Sai daí porco. Tá na hora do recado principal.

 

Com as mãos para trás, fui ajudado a sair do porta malas. Ajudado é modo de dizer. Me arrancaram com um puxão. Quase fui ao chão quando toquei meus pés no capim alto. Fiquei de frente para os dois – como suspeitei, vieram apenas dois, o grandão e um sequinho – e esperei para ver o que iria acontecer.

 

Quando o grandão, que se achava o mais macho de todos, deu um passo em minha direção, com a mão levantada, pronto para me descer a porrada, acertei seu maxilar com a chave de rodas que tinha escondido às costas.

 

Uma coisa eu aprendi na polícia depois que um vagabundinho conseguiu fugir de dentro da viatura e me deu um trabalho enorme para recapturá-lo. Nunca tire os olhos de um preso, jamais.

 

Não foi preciso dar a segunda porrada, os joelhos do grandão amoleceram e aquele corpanzil despencou como uma árvore centenária após o ataque de uma motosserra. Quanto maior a altura, maior a queda. Olhei para o sequinho que tentou sair correndo. Não chegou a dar dois passos. Acertei sua nuca com tamanha violência que seu corpo fez uma pirueta antes de cair inerte. Sua perna direita tremia, em espasmos, como uma galinha desnucada. Revirei os bolsos de sua jaqueta e achei o maço de cigarros. Estava “tisgo” por uma tragada e nem me importei com o gosto de capim seco daquele cigarro paraguiaio.

 

Vasculhei o interior do opalão e encontrei minha sacola com as cervejas e os cigarros. Meu celular também estava lá. Liguei para Camila e contei o que estava acontecendo.

 

Tão logo eles desceram da viatura eu embarquei. Falei aos colegas de serviço que tentaram nos matar. Largamos com sirene liga e tudo atrás da turma. Quatro quadras depois abordamos a turma. O nanico estava com o desenho do meu 38 tatuado na sua cara. Foi o primeiro a querer reclamar para os colegas que havia apanhado. Um tabefe de direita o fez calar a boca.

 

Meus colegas não pouparam os bastões. Tem esse lance de corporativismo em tudo quanto é canto. Na polícia é mais forte, se meter a mão com um, é o mesmo que meter com a corporação inteira. Ainda mais se o cara é vagabundo e pertence a alguma gangue, como foi o caso. O resultado, além de alguns ossos quebrados, foi a proibição de frequentarem aquele lado da cidade.Depois de despachar a gangue, os colegas me deixaram em casa e levaram o Bêlo ao hospital para ser medicado. Sem registro nem porra nenhuma. Era assim que funcionava.

 

Já passava das cinco da madrugada e eu tinha que estar as seis no quartel para assumir o turno de serviço. Coloquei minha farda enquanto a puta dormia em cima da minha cama. Não pensei duas vezes, fardado mesmo, me joguei em cima daquele corpo para terminar a trepada interrompida. Cheguei atrasado ao quartel. Mas como era final de semana, não houve cobranças. Quer dizer, a única cobrança que houve foi nove meses depois.

 

Continua......

 

 

Por: Roberyk

 

 

Diário de PM/BM


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