Pela terceira vez meu celular tocava.
Para variar, era Camila.
- Véio! Você disse que era para dobrar
onde mesmo?
- Puta que pariu mulher! Presta
atenção, esquerda é o lado do coração e direita é o outro lado.
- Tá, mas qual é o lado do coração
mesmo?
- Faz assim, vá até aquele mato onde
trepamos outra noite.
- Ah! Tá. Agora sei.
Caralho, mulher é assim mesmo, quanto
mais bonita, mais burra. Por sorte não dei latitude e longitude, aí sim iria
foder tudo. Com muito esforço, após verificar cada costura da sua
roupa, coloquei o grandalhão amarrado no porta malas do Opalão e só
para me certificar, dei mais uma porrada nos seus cornos que era para dormir um
pouco mais. Tive o cuidado de esvaziar completamente o cativeiro do puto. Vai
que ele tem um surto de inteligência?
O magricela foi mais fácil, deixei-o
amarado no banco do carona, assim poderia vigiá-lo melhor. Liguei o carango e
rumei para o local combinado com Camila. Tomara que ela não tenha esquecido
meus petrechos.
Eu e o Secão estávamos de bobeira e
fomos jogar sinuca na associação dos cabos e soldados, que ficava em frente à
casa da percanta que dizia estar esperando um filho meu. Não deu outra, logo
veio a irmã dela dizendo que ela queria falar comigo. Não vou dizer que ela era
bonita, na verdade era feia pra caralho, mas, como estávamos só a fim de zoeira
mesmo naquela noite que o Belo apanhou, não escolhemos muito não. A primeira
que apareceu dançou.
- Oi.
- Oi. Como tem passado?
- Bem.
- Então. Tua irmã disse que tu queria
falar comigo. Diz aí.
- Pois é. Cê sabe como é. Eu ando mais
por casa. Quase não saio. Na verdade a última vez que fui numa festa foi
naquela noite.
- É? Pois é. Eu também ando meio
caseiro. Mas o que era mesmo tu queria falar comigo?
- Bem..Sabe como é...Eu fui no médico e
ele disse que eu to de três meses.
- Sério? Vai ser mamãe? Parabéns. Mas o
que era mesmo que tu queria me falar?
Tirei meu BL e fiquei olhando bem no
fundo dos olhos dela, esperando para ver o que aconteceria.
- Pois é, então eu queria ver contigo.
- Ah! Ver comigo?
- É. Como te disse, eu nunca mais saí
depois daquela noite e..
- Ah! Peraí. Cê tá dizendo que eu sou o
pai do teu filho. É isso?
- Pois é Não sei o que tu acha.
- Humm! Então quem sabe a gente faz
assim, já que tu tá prenha, a gente podia casar né?
O sorriso foi imediato. Do tipo que vai
de orelha a orelha.
- Mas com quantos meses o médico disse
que tu tá? Três?
- Ah! Sabe como é esses médicos, eles
dizem uma coisa hoje, outra amanhã...
- Sei. Então a gente faz assim. Vamos
esperar nascer. Se o boneco tiver olho azul, gel no cabelo e usar BL, eu
assumo. Mas eu acho que tu deveria falar primeiro com os taxistas que te
comeram naquela outra noite e depois tu vai lá no EB e fala com a milicada.
Pode ser?
- Mas...
- Vai se fuder mulher. Tá achando que
sou trouxa?
Enquanto esperava, o telefone do
viadinho magricela tocou. Na quinta chamada eu atendi.
- Alô!
- Quem é que tá falando?
- O comedor da tua mãe.
- Como é? Cadê o Dudu?
- Ah! Então a bicha magricela se chama
Dudu? Seguinte o puto, a casa caiu. Teu viadinho magricela e teu comedor
marombado estão impossibilitados de falar no momento. Pega senha e aguarda.
- Quem diabos está falando?
- Já te falei. É o comedor da tua mãe.
Sabia que ela adora tapa na bunda? Vai ver o puto do teu pai não dava conta
porque a veia tá com um fogo...
- Escuta aqui seu..
- Cala a boca o caralho! Escuta aqui
você, seu merda. Pisou na bola mano, mexeu com o cara errado, cutucou onça com
vara curta, pisou na bosta e vai feder. Espera sentado e aguarda o resultado.
Só vou avisar uma coisa, na hora que o bicho pegar, não adianta chorar neném.
Desliguei o telefone, ascendi um
cigarro e abri uma lata de cerveja. O farol ao longe e o ronco da moto
indicavam que Camila finalmente achara o caminho. Não demorou dois goles e ela
estacionou a moto. Um dia ela se mata de tanto correr.
- O que tá acontecendo veio?
- Oi procê também. Olha dentro do
carro.
Camila abriu o porta malas e gritou.
- Filho da puta! Tá pensando que vai
machucar meu veio?
Só consegui segurá-la depois que ela
abriu a cabeça do grandão com a chave de rodas.
- Calma mulher. Olha a merda que tu
fez.
- Vai se fuder Véio. Tá pensando que
vou deixar te baterem assim? Eu mato. Cadê o outro.
- Heeei! Calma aí porra. Toma uns
goles. Deixa eu pensar.
- Mas o que houve?
- É o seguinte. Sabe aquele maluco da
lavagem que te falei? Pois é. Mandou esses putos me darem um coro porque eu
ando pressionando o esquema de tráfico deles.
- Filho da puta. Eu te falei que tava
rolando coisa ali.
- É. Você me falou.
- E agora?
- Agora é tudo ou nada. É guerra
escancarada e o negócio é comigo.
- E teus colegas?
- Melhor não saberem. Mas isso não
passa de hoje.
- O que tu vai fazer?
- To pensando num lance. Primeiro me
ajude aqui. Você trouxe o que te pedi?
- Sim. Tá na mochila.
- Beleza. Abre mais uma gelada e
ascende um crivo. Você ainda sente aquele desejo de fazer
algo proibido?
- Se sinto? Bota a mão aqui na minha calcinha e sinta você mesmo.
Diário de PM/BM
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