sábado, 13 de abril de 2013

CIÚME MACABRO




Carlos e Romualdo eram sócios no ramo de vidraçaria. Haviam passado recentemente por muitas dificuldades, quase tinham falido. Carlos era um sujeito esperto e trabalhador, Romualdo mais jovem, era espaventado e sem preocupações. Eram amigos inseparáveis. A pequena empresa era praticamente administrada por Izaura, mulher de Carlos.

 

Ela cuidava das finanças, atendia a clientela. Ele e seu sócio cortavam e instalavam os vidros, passavam muitas horas fora, nos clientes.

Os maus momentos da empresa estavam terminando, os negócios haviam melhorado muito. Tudo estava de “vento em popa”. 

 

Durante a fase ruim da empresa, Carlos havia pensado até em suicídio. Tinha comprado um revólver 38, que mantinha escondido da mulher e do sócio. Certa vez encostou o cano na têmpora, mas ao pensar nos filhos e na sua maravilhosa esposa, desistiu.

 

-         Hoje serve apenas para proteger! – Pensava ele.

 

Izaura era uma mulher bonita, na plenitude de seus trinta e cinco anos, era ativa, formada em Administração de Empresas, cuidava de toda a parte gerencial da empresa. Tinham dois filhos, Jorge de 12 e José de 7 anos. O mais velho, eventualmente dava uma mão na vidraçaria, mas prioritário era o estudo, no qual ia muito bem.

 

Romualdo era solteiro, sujeito forte, bem afeiçoado, com 38 anos. Morava com a mãe, não muito longe da empresa. Aproveitava cada momento da vida. Vivia se gabando das suas conquistas, quando estavam no galpão cortando ou preparando os vidros.

 

-         Final da semana passada, sai com uma ruivinha... – Comentava Romualdo.

-         Este final de semana vou sair com outra gata. – E assim passavam o dia. 

 

Carlos era maduro, tinha quarenta e cinco anos, mas os últimos acontecimentos o envelheceram bastante. Os poucos cabelos que lhe restavam, branquearam de repente, fisicamente era magro, e a carga da responsabilidade e preocupação o arqueavam fazendo que aparentasse mais idade do que tinha.

 

Apesar da amizade, Carlos sentia uma pequena ponta de ciúmes de Romualdo com Izaura, mas não tinha este direito, pois sua mulher o amava, e se não fosse assim, não o teria ajudado a reestruturar a empresa e sempre esteve ao seu lado, tentando levantar o seu ânimo.

 

-         Se não fosse ela, já teria posto fim à minha própria vida. – Pensava.

-         Ela é tudo para mim. – Procurando se distrair com outros pensamentos.

 

Quanto a Romualdo, confiava por sua mão no fogo pelo amigo. Neste período de crise poderia ter conseguido algo bem melhor, pois tinha toda capacidade para isto. Não precisava da sociedade.

Incontáveis as vezes que tirou dinheiro que guardara na poupança para lhe emprestar, sem falar nas inúmeras vezes que dava-o a Izaura, sem garantia de recebimento ou algo em troca, quando percebia que a situação não estava boa, era um verdadeiro irmão.

 

-         Não! Não tenho esse direito de maneira alguma, como posso achar que eles me trairiam – Pensava, afastando os maus pensamentos.

-         Coisa do Demo! Sai pra lá Satanás.

 

Passados alguns dias, Carlos notara uma movimentação diferente entre Izaura e Romualdo.

Vez ou outra os dois cochichavam nos cantos, quando ele se aproximava eles riam e notoriamente mudavam o assunto. Algumas vezes, Izaura falava ao telefone e se surpreendia com sua presença. Assim foi por quase uma semana.

 

Carlos agora, já remoia hipótese de traição entre Izaura e Romualdo. Tentou em vão dialogar com a mulher sobre o que estava acontecendo.

 

- Izaura! O que esta acontecendo? Você vive de cochichos com o Romualdo, fica ligando para não sei quem...  – Indagava ele.

 

Evasiva Izaura, dava uma desculpa qualquer...

 

-         Poxa Carlos! Não esta acontecendo nada, deixa de ser bobo ... – Respondia.

 

Carlos cada vez mais intrigado, e a hipótese de uma traição não saia de sua cabeça. Passara então a observar calado sua mulher e o amigo, agora já não tão certo disto.

 

No sábado, como de costume, trabalharam até as 12:00 hs. Estavam fechando a pequena vidraçaria quando sua mulher disse-lhe que teria um serviço urgente e como era um cliente especial deveria atender, era somente para fazer um simples orçamento. Mesmo porquê ela também não iria para casa, deveria buscar os meninos que estavam na casa dos pais dela, e iria voltar somente mais tarde, quase ao anoitecer.

 

-         Mas não pode ser o Romulado?  - Perguntou.

 

Ela respondeu que Ele tinha outro compromisso.

 

         -  Poxa! É lá em Campo Largo! Até terminar tudo e voltar será quase noite ...  – Argumentou.

-         E logo hoje? É o dia do meu aniv....

 

Foi bruscamente interrompido pela mulher...

 

-         O que tem hoje?  Só porque é sábado... Deixa de ser moleirão, vai lá e atende o cliente, nós precisamos deste pedido. Depois você pode ir para casa descansar. – Falou ela firme, evitando prolongar o assunto.

-         Esta bem! - Respondeu ele conformado...

 

Dirigiu-se a camionete, pensando...

 

-         Poxa! Isaura esqueceu que hoje é meu aniversário, sequer me deu um beijo pela manhã, alias nem comentou nada.

 

 


Ele tinha planos para este dia, queria sair com a mulher e os filhos, fazia tempo que não fazia isto, pensou em jantar fora...

Já estava anoitecendo quando Carlos retornou. Ao chegar perto de sua residência, notou o seu sócio entrando sorrateiramente, pela porta dos fundos da casa. Não teve dúvidas.

 

-         Bem que desconfiava, esse sem vergonha com a safada da Izaura – Resmungou entre os dentes.

-         Eles vão ver.

 

Dirigiu-se a empresa. Lá chegando, apanhou o revólver que mantinha escondido e colocou-o na cintura.

 

Ao chegar em casa, adentrou num movimento brusco. Estava cego pelo ciúmes. Ao entrar na sala, pode perceber os alguém por trás da cortina.

 

-         Tome! Cafageste traidor!

 

Deu dois tiros no homem escondido por trás da cortina. Romualdo com um gemido caiu a sua frente enrolado na cortina alva agora maculada pelo sangue.

 

Neste exato momento, entram no cômodo a mãe de Romualdo, sua mulher e os pais, os filhos e alguns clientes cantando em unisono...

 

         - Parabéns pra você, nesta data...  

 

Carlos então percebeu a besteira que havia feito.Todos aqueles cochichos e telefonemas, não passavam de preparatórios para uma festa surpresa de aniversário... 

 

Mais tarde, ao ser conduzido para viatura da Polícia Militar que atendera a ocorrência, Carlos cantava sem parar  ”parabéns prá você...”, ria e pulava de alegria, apesar de algemado.

 

Perdera totalmente o juízo.

 

 

 

Diário de PM/BM

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