- O que você faz
aqui?
- Boa pergunta. Eu
também gostaria de saber que diabos eu faço aqui.
- Diabo. Um só.
Único. Autêntico. Eterno. Um só.
- Tá. Vai se fuder
então e me diz logo que porra eu faço aqui.
- Vejamos. Primeiro,
eu gostaria de saber qual foi à porra que você fez para parar aqui. Você não
tem cara nem tipo do povinho que vem para cá. Mas, porém, no entanto, data
vênia, se está aqui é porque o brother não te quis. E, se o brother não te
quis, você deve ter sido muito mauzinho.
- Por que você não
vai enrolar o cu da tua mãe e me diz logo?
- Não falei? Menino
desbocado. Façamos o seguinte, comece me contando sua vida.
- Pra quê? Fará diferença?
- Quem sabe?
- É o seguinte,
Mané. Ou tu para de enrolar ou a porrada vai comer legal aqui. Tá pensando que
tá falando com quem?
- Acho que você não
está nem em condições, nem em posição de exigir nada.
- Ah tá. E tu? Vai
fazer o quê? Vai me matar? Já to morto, seu viado. Ou tu tá pensando que esse
rombo no meu peito é tatuagem? Vai se fuder, caralho.
- Te matar não
posso. Mas transformar tua passagem por aqui numa experiência desagradável,
isso eu posso.
- Desagradável é a
visão do cu cabeludo da tua mãe, seu puto. Desagradável é passar mais de vinte
anos caçando vagabundo, ouvindo oficiais viados arrotarem ordens absurdas e
usurpar o dinheiro público na maior cara de pau. Desagradável é chegar em casa
e nem uma puta ceva gelada na geladeira para aliviar o calor. Desagradável é
ver um bando de filhos da puta metidos a rico e juiz de direito ameaçando te
processar por causa de uma multa de trânsito. Desagradável, seu viado, é levar
um par de guampa, se bem que você não deve se importar, e ver a mulher que você
ama indo embora com outro. Tá bom assim ou quer mais?
- Então o menino
mauzinho era policial?
- Não, era o comedor
da tua mãe.
- Típico. Acompanhei
teus passos. E quer saber? Eu sabia que cedo ou tarde iríamos nos encontrar.
Não era você que sempre dizia que queria vir para cá? Não era isso que falava
para aqueles coitados quando você os quebrava a pau? O que eu quero realmente
saber, é como você veio parar aqui.
- Uma trepada.
- O quê?
- Você é surdo ou
não lavou os chifres hoje? Uma trepada, fornicada, tico na xeca, bimbada.
Aquilo que a puta da tua mãe adora fazer. Quer que eu desenhe?
- Engraçadinho.
Me conte, como foi?
- Tá. Já vi que o
rabudinho não vai desistir. Então tá. É o seguinte. Conheci a mulher de um
colega e começamos a sair. Trepar, para ser mais exato. Isso durou uns seis
meses. Um belo dia ela resolveu contar tudo para ele. A casa caiu. Eu sumi por
uns tempos. Mais de ano depois, ele me ligou, a pedido dela. Me falou um monte
de coisas sobre perdão e bla bla bla que não me convenceu muito. Sumi
novamente. Anos mais tarde, por coincidência do destino. Tá rindo do quê? Vai
me dizer que tem dedo teu nessa parada?
- Capaz. Continua.
Apenas achei engraçado.
- Engraçada é a vaca
gorda da tua mãe de quatro, balançando as pelancas e pedindo tapa na bunda.
- Continua.
- Não gostou né? Não
te preocupa, não comi a baranga da tua mãe, nem que ela me pagasse. Pois bem,
continuando. Encontramos-nos anos mais tarde em um shopping. Conversamos um
tempo e ele me convidou para ir até a casa deles. Disse que o que passou já era
e que queria manter a amizade e bla bla bla. Não sei o que me deu na cabeça.
Aceitei.
Um belo dia apareci na casa deles. Mesmo desconfiado. Receberam-me hiper
bem. Almoçamos, passeamos num parque pela tarde. Acabei jantando com eles. Como
estava ficando tarde anunciei que iria embora. Foi quando ele me disse que iria
trabalhar no plantão da madrugada e pediu para que eu dormisse lá, pois estava
tarde e a estrada de volta para minha cidade era perigosa. Estranhei demais
aquela atitude. Resolvi dar o fora.
Quando a esmola é demais, se desconfia do santo. Você deve saber muito
bem como é isso. Eles insistiram e eu relutei. Menti que tinha um encontro com
uma mina e etecétera. Ele insistiu novamente com o apoio dela, dizendo que pela
manhã poderíamos continuar a conversa e os passeios que estavam agradáveis.
Agradeci o convite e me despedi. Subi na minha moto e saí dali.
Mas você sabe muito bem que a carne é fraca, ainda mais quando a presa
está diante dos seus olhos pedindo para se comida. Dei a volta na quadra,
deixei a moto numa garagem de aluguel e fiquei esperando ele sair. Passamos a
noite toda trepando feito animais no cio enquanto o corno trabalhava.
A merda foi que peguei no sono. Acordei com o barulho do carro do guampa
entrando no pátio. Meio sonolento ainda, catei minhas roupas e pulei a janela.
Não queria ficar para ver a reação. Pulei o muro vizinho e dei de cara com um
cachorro cuja raça não sei qual é, pois só vi aqueles dentes enormes vindo para
meu lado. Pulei o outro muro e o outro e o outro. Foi quando uma viatura
passava pela rua e uma velha que deveria ser a puta da tua mãe gritou a todo
pulmão - Pega ladrão! - Fudeu.
E cá estou eu, com esse rombo no peito. Satisfeito? Agora pode me dizer
que diabo eu faço aqui?
- Posso dizer que
estou em partes. O que você faz aqui? Não se preocupe, o limbo serve para isso
mesmo. Ou você pensa que tudo o que você fez vai ficar no zero a zero?
- Vai se fuder seu
corno chifrudo.
Por Roberyk
Diário de PM/BM
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