No dia 19 de fevereiro de 2008, na cidade de São José do Rio Preto/SP,
um Agente de Polícia Federal estacionou seu carro e permaneceu no seu interior,
juntamente com sua filha de 12 anos de idade. Ele estava ali aguardando a
chegada de sua esposa.
Sem aviso, um homem entrou no carro pela porta traseira, e de arma em
punho, ordenou que o Policial dirigisse. Enquanto dava ordens ao Policial, o
criminoso apontou a arma para a cabeça dele. Segundos depois, o criminoso saiu
correndo do carro e caiu morto 20 metros adiante.
O que disse a imprensa:
“Rodrigo Silva dos Santos, 23 anos, foi morto anteontem por volta das 20
horas pelo agente da Polícia Federal G.A.M.J., 44 anos, durante uma tentativa
de assalto. Segundo consta no boletim de ocorrência, o agente estava dentro do
carro dele, um Ecosport, em frente à casa da cunhada à espera de sua mulher,
quando notou a aproximação de Santos em direção a porta traseira do veículo. O
rapaz, que estava a pé, abriu a porta, anunciou o assalto e ordenou que o
agente descesse do carro. Nesse momento, G.A.M.J. tirou da cintura uma pistola
nove milímetros e efetuou cinco disparos contra o assaltante. Três deles
acertaram o braço e o peito do rapaz. Mesmo ferido, Santos saiu do carro e caiu
no chão. Compareceram no local profissionais da unidade de Resgate e do Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constataram o óbito.” (DIÁRIOWEB,
2008).
O que disse o Policial?
“O meliante sacou uma arma de fogo e apontou para minha filha chamando-a
de vagabunda, uma criança de 12 anos, que estava no banco traseiro. Eu que
estava no banco dianteiro com a arma no colo, empunhei-a e calmamente passei
pela frente do meu peito e posicionei-a embaixo do meu braço esquerdo que
estava apoiado na coluna do veículo, o conhecido ‘sovaco’. Nesse ínterim, o
marginal apontou a arma para minha pessoa e gritava: ‘TOCA PORRA...!’ Nesse
momento, ele desviou atenção para fechar a porta da onde se encontrava sentado,
instante que efetuei os disparos atingindo-o mortalmente. Graças a DEUS estou
aqui contando essa passagem e ainda melhor, podendo beijar minha filha e
educá-la para um país melhor, onde o bem vencerá o mal.” (G.A.M.J., 2008).
O que o Policial fez de errado?
O único erro que o Policial cometeu foi ter estacionado na rua e
permanecido dentro do carro. Apesar de ter sido o único erro, isso foi o
suficiente para o bandido aproveitar a oportunidade para cometer o crime.
Quando você estaciona seu carro e fica dentro dele, você é um alvo
fácil. Se alguém se aproxima do carro para furtá-lo, e você está lá dentro, o
que seria um simples furto pode se transformar num seqüestro ou assassinato. Esperar
dentro do carro é confortável, mas perigoso.
Esperar fora e longe dele é desconfortável, contudo mais seguro. O
desconforto sempre passa, mas as conseqüências do crime e da violência duram
para sempre. Por isso, nunca espere alguém ou alguma coisa dentro do seu carro.
Saia e vá para um local mais seguro.
O que o Policial fez de certo?
Para compensar o fato de estar estacionado na rua e dentro do carro, o
Policial sacou sua arma e a colocou no colo para usá-la logo, caso algo
ocorresse.
E quando o Policial percebeu que ele e sua filha seriam levados para
outro local, reagiu imediatamente. Atirou e continuou a atirar até o criminoso
desaparecer.
Pense nisso: roubar alguém é fácil e rápido, mas o seqüestro, o estupro,
a tortura e o assassinato não seguem a mesma dinâmica. Para que essas
atrocidades ocorram o criminoso precisa dominá-lo e levá-lo para outro local.
O único objetivo para levá-lo de um lugar para outro é impedir que o
crime seja testemunhado por outras pessoas dificultando que você receba o
socorro para continuar vivo. E se você for levado para outro lugar, sua chance
de escapar ou lutar é mínimo.
Um ladrão só precisa de alguns segundos para fazer o trabalho dele e ir
embora, mas a tarefa de um maníaco ou assassino cruel leva mais tempo. Assim, o
Policial resistiu e reagiu logo antes mesmo que saísse do lugar e chegasse ao
seu destino final. Arriscou tudo na hora, porque se ele estivesse com o
criminoso num local isolado, só haveria tempo para lamentação e arrependimento
por não ter feito nada.
No dia 21 de fevereiro de 2008, tive a satisfação de conversar com esse
Policial Federal, e parabenizá-lo pela atitude. Enquanto ele narrava o fato, me
disse que quando percebeu a oportunidade de reagir, pensou: “É AGORA!”. Conheço
bem esse pensamento, porque foi o mesmo que me ocorreu em 1998 durante uma
tentativa de assalto.
Por que esta frase é importante?
Porque é a frase que separa os sobreviventes dos perdedores. Quando
alguém diz “É AGORA!”, isso reflete seu comprometimento com a própria segurança
e seu condicionamento mental para a sobrevivência.
Quando você assume a responsabilidade por sua própria segurança, isso
lhe dá a motivação para fazer o que for necessário para sobreviver caso o pior
aconteça, ou seja, alcançar um objetivo determinado por antecipação. Esse
condicionamento da mente fundamenta-se numa reação rápida e objetiva. A
presença da sua arma não muda nada, pois você ainda precisa estar mentalmente
orientado para um propósito (a sua segurança)
Por isso, até que você tenha atingindo esse objetivo e esteja em casa
com sua família, você não pode desistir de sobreviver.
No entanto, a polícia costuma dizer que se você não reagir, o criminoso
não vai lhe ferir. A verdade é que nenhum policial pode lhe dar essa garantia.
Contudo, o quê o criminoso vai fazer com você, só ele sabe. Então, cabe a você
decidir o quê vai fazer para salvar a sua vida: acreditar no bandido e fazer o
quê ele manda; ou acreditar em você e seguir suas próprias ordens.
A decisão de ser complacente não o liberta das conseqüências de um crime
violento. Na verdade sua submissão cede total controle ao criminoso, a menos
que você reaja depressa e acabe que esse controle. Quando você reagir, verá o
desespero estampar-se na cara dele, pois agora você é a ameaça.
Você consegue realmente atirar numa pessoa?
Não é blefar, mas ATIRAR contra alguém que ameaça a sua vida. Lembre-se,
você está diante de alguém capaz de lhe matar. Provavelmente ele já tentou
fazer isso com outras vítimas. Portanto, você tem que ser curto e grosso. A
hesitação ou a compaixão provavelmente vão fazer com que o criminoso lhe tome a
arma e a use contra você.
E só para você lembrar...O Policial Federal G.A.M.J. está vivo, ao lado
da família, e passa bem! Já o criminoso foi enterrado dia 20/02/2008 no
cemitério São João Batista.
Ah! Quase me esqueci. A frase dos perdedores (que normalmente estão
mortos) é: “AI, MEU DEUS!”
Por: Humberto
Wendling é Agente de Polícia Federal
Diário de PM/BM
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