Ele
observava atentamente enquanto varria o pátio da escola. Todas aquelas crianças
correndo, chacoteando, motejando à toa. Adorava passar as manhãs e as tarde ao
redor delas, seus anjinhos. Vez que outra, no intervalo entre a limpeza dos
corredores e da escadaria, ficava olhando as aulas de educação física.
Os
meninos mostrando a pujança de seus músculos púberes, formando-se ainda dentro
de calções curtos, que deixavam ainda mais evidentes as formas durante o jogo
de handebol. As meninas, com suas delicadas e curvilíneas formas acentuadas
pelas suplex, coladas como se fossem peles coloridas, que a cada movimento
atrás da bola de vôlei, formavam um balé simétrico, lindo, capcioso.
Ao final
de cada turno, postava-se escorado a uma árvore em frente à escola. Permanecia
ali até que todos os infanto-juvenis deixassem apenas a saudade e o desejo de
que o próximo dia chegue, para poder, outra vez, ficar observando, tal qual uma
ave de rapina no alto de um penhasco.
Após a
calmaria, percorria cada corredor, cada sala de aula. Por fim, os banheiros,
como um rito. Primeiro o masculino, verificava cada recanto, sentia os cheiros,
respirava fundo. Depois, o feminino, onde se demorava mais.
Havia
três meses que foi contratado. Gostava muito da atividade. Morava sozinho em um
quarto de pensão mal arejado. Já com seus trinta e nove anos, não tinha
família.
Nunca
casou, não teve filhos. Vez que outra procurava uma prostituta para saciar suas
necessidades. Não tinha e não queria ter um relacionamento fixo. Achava perda
de tempo passar anos e anos agüentando a mesma pessoa. Preferia a solidão.
Na
escola, pouco se sabia sobre sua vida e seu passado. Apenas que havia
trabalhado em uma escola da capital e teve que mudar-se para o interior por
motivos de saúde. Tinha uma carta de recomendação assinada pelo diretor da
instituição anterior.
Trabalhava
diariamente sem exageros, sem reclamar. Observava tudo, quem entrava e quem
saía. Qual carro cada professor e cada pai ou mãe possuía.
Foi numa
sexta-feira, no final do turno da tarde, que aconteceu o inesperado. Como fazia
todos os dias, ficou observando as crianças saindo. Era um dia como outro
qualquer, não fosse o fato dele estar espreitando atrás do muro que escondia o
terreno baldio em frente à escola.
Suava
frio, sua respiração estava ofegante. Sentia um leve tremor nas pernas. Por um
buraco no tijolo ele viu quando a menininha atravessou a rua e caminhou na
direção que ele estava sem poder vê-lo. Quanto mais perto ela chegava, mais
nervoso e irrequieto ele ficava. Repentinamente ele saltou por cima do muro. A
menina gritou aterrorizada.
No dia
seguinte o zelador estava nas manchetes dos jornais: Pedófilo é preso ao tentar
agarrar uma estudante em frente à escola.
No mês
seguinte ele estava trabalhando em outra escola, em outra cidade. Observava as
crianças como um pai observa um filho. Estava apreensivo e ao mesmo tempo
feliz, satisfeito em poder estar perto de seus anjinhos.
Espreitava
tudo, como ave de rapina no alto de um penhasco. Sabia que cedo ou tarde,
prenderia mais um maníaco, cumpriria com louvor mais uma missão na sua carreira
de policial.
Diário
de PM/BM
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