Sexta-feira, 21 de maio. Sento em frente ao
computador e acesso meu comunicador instantâneo. Logo vem a mensagem de Z:
Z diz: Como vai. É certo que você vem?
R diz: Sim. Parto amanhã às nove e trinta. Devo
chegar em torno de dezoito horas.
Z diz: Ótimo.
R diz: Você ainda tem o produto?
Z diz: Sim.
R diz: Preciso de quatro. Farei contato quando
chegar.
Z diz: Ok.
Abro mais uma cerveja enquanto confiro as malas.
Preciso tomar um porre antes da meia noite pra poder dormir. Por precaução,
coloquei o relógio para despertar antes de me embriagar. Às duas da manhã
desmaiei completamente bêbado. Tive pesadelos, como sempre.
Acordei com o relógio me martelando o cérebro.
Levantei cambaleando e com a cabeça explodindo, sem contar o gosto amargo na
garganta. Tomei um banho rápido. Joguei as malas no carro e parti rumo ao
oeste.
Faltavam cinco minutos para as dezesseis horas
quando entrei em Santo Ângelo pela Rua Sete de Setembro, a trezentos e setenta
quilômetros de minha casa. Segui direto para o centro. Estacionei o carro na
Rua Marquês do Herval e entrei na lancheria que ficava na esquina desta com a
avenida Brasil.
Pedi ao garçom uma cerveja bem gelada. Sentei-me na
terceira mesa a partir da entrada, de onde tinha uma nítida visão do movimento
de pessoas e veículos que circulavam pela Rua Marquês do Herval, mais
especificamente dos veículos que subiam pela rua de mão única. Podia ver a
expressão de cada motorista.
Permaneci por cerca de duas horas sentado, bebendo
e vislumbrando o movimento através da enorme janela de vidro que permitia
observar todos do lado de fora. Paguei a conta e dirigi-me para um hotel nas
proximidades, cerca de duas quadras da lancheria.
Após desfazer parcialmente as malas, tomei um banho
para tirar a poluição do corpo. Fiquei quarenta minutos relaxando debaixo daquelas
gotas quentes que saíam do chuveiro. Saí do hotel e fiquei perambulando pelo
centro, saciando a nostalgia. Inevitavelmente, voltei à mesma lancheria. Por
sorte a mesa que ocupara anteriormente estava livre. Tomei o lugar e pedi, para
variar, uma cerveja.
Durante os dias subsequentes, minha rotina era a
mesma. Acordava pela manhã e ficava perambulando pelo centro da cidade. Fazia
compras, visitava os locais históricos e ia para a lancheria onde ficava
sentado na mesma mesa, no mesmo horário e bebendo a mesma marca de cerveja.
À noite, após o banho, continuava a fazer o que
fazia desde o primeiro dia, exceto na noite de quarta- feira. Passei mais tempo
na rua naquela noite, vagando pelas sombras das árvores e
marquises.
Quando tive a certeza de que as ruas estavam
praticamente desertas, passei em frente à lancheria e, com o auxílio de um
martelo que havia comprado no comércio, fiz um buraco na vidraça, exatamente no
local em que sempre me sento. Voltei para o hotel e fui dormir.
No outro dia acordei um pouco mais tarde. Saí do
hotel e procurei uma lan house. Acessei o mensageiro e contatei Z.
R diz: Como vai? Está na cidade?
Z diz: Sim.
R diz: A que horas pode me encontrar e onde?
Z diz: Encontre-me as dezesseis e quarenta em
frente ao cinema.
R diz: Está com a encomenda?
Z diz: Sim.
R diz: Ok. Estarei com o dinheiro.
Eu não conhecia Z pessoalmente, somente pelos
poucos contatos via internet. Tínhamos um ramo de atividade em comum, o que
propiciou o contato pessoal. Saí da lan house e fui almoçar.
Eram três da tarde quando me sentei na mesma mesa
da lancheria, pedi uma cerveja e o jornal do dia. Às dezesseis horas o veículo
prata subia lentamente pela Marquês do Herval, como fazia todos os dias.
Posicionei a pistola por baixo de meu braço esquerdo e coloquei o silenciador
no furo da vidraça.
As pessoas na rua estranharam quando aquele veículo
colidiu no poste da esquina, subindo pela calçada. O garçom, o gerente da
lancheria e eu, corremos para fora para ver o que estava acontecendo. Algumas
mulheres começaram a gritar quando viram a cabeça do motorista esfacelada e
pedaços de cérebro e couro cabeludo grudados no para-brisa.
Olhei o relógio e faltavam vinte e cinco minutos para
às dezessete horas. Paguei o garçom na rua mesmo e me dirigi até o cinema,
cerca de setenta metros da lancheria, na mesma rua. Entrei no bar que
funcionava junto ao cinema e pedi uma cerveja. Ao olhar para a rua avistei Z.
Reconheci-o imediatamente pois era a única pessoa
parada que olhava para todos os lados à procura de alguém. Chamei-o e
convidei-o para sentar-se comigo em uma das mesas. Ele recusou a cerveja,
estava com pressa.
- Trouxe?
- Sim. Aqui está.
-
Ótimo. Aqui está o dinheiro.
Continua...
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