sábado, 4 de maio de 2013

A encomenda – Encontro marcado com a morte.




Sexta-feira, 21 de maio. Sento em frente ao computador e acesso meu comunicador instantâneo. Logo vem a mensagem de Z:

Z diz: Como vai. É certo que você vem?

R diz: Sim. Parto amanhã às nove e trinta. Devo chegar em torno de dezoito horas.

Z diz: Ótimo.

R diz: Você ainda tem o produto?

Z diz: Sim.

R diz: Preciso de quatro. Farei contato quando chegar.

Z diz: Ok.



Abro mais uma cerveja enquanto confiro as malas. Preciso tomar um porre antes da meia noite pra poder dormir. Por precaução, coloquei o relógio para despertar antes de me embriagar. Às duas da manhã desmaiei completamente bêbado. Tive pesadelos, como sempre.

Acordei com o relógio me martelando o cérebro. Levantei cambaleando e com a cabeça explodindo, sem contar o gosto amargo na garganta. Tomei um banho rápido. Joguei as malas no carro e parti rumo ao oeste.

Faltavam cinco minutos para as dezesseis horas quando entrei em Santo Ângelo pela Rua Sete de Setembro, a trezentos e setenta quilômetros de minha casa. Segui direto para o centro. Estacionei o carro na Rua Marquês do Herval e entrei na lancheria que ficava na esquina desta com a avenida Brasil.

Pedi ao garçom uma cerveja bem gelada. Sentei-me na terceira mesa a partir da entrada, de onde tinha uma nítida visão do movimento de pessoas e veículos que circulavam pela Rua Marquês do Herval, mais especificamente dos veículos que subiam pela rua de mão única. Podia ver a expressão de cada motorista.

Permaneci por cerca de duas horas sentado, bebendo e vislumbrando o movimento através da enorme janela de vidro que permitia observar todos do lado de fora. Paguei a conta e dirigi-me para um hotel nas proximidades, cerca de duas quadras da lancheria.

Após desfazer parcialmente as malas, tomei um banho para tirar a poluição do corpo. Fiquei quarenta minutos relaxando debaixo daquelas gotas quentes que saíam do chuveiro. Saí do hotel e fiquei perambulando pelo centro, saciando a nostalgia. Inevitavelmente, voltei à mesma lancheria. Por sorte a mesa que ocupara anteriormente estava livre. Tomei o lugar e pedi, para variar, uma cerveja.

Durante os dias subsequentes, minha rotina era a mesma. Acordava pela manhã e ficava perambulando pelo centro da cidade. Fazia compras, visitava os locais históricos e ia para a lancheria onde ficava sentado na mesma mesa, no mesmo horário e bebendo a mesma marca de cerveja.

À noite, após o banho, continuava a fazer o que fazia desde o primeiro dia, exceto na noite de quarta- feira. Passei mais tempo na rua naquela noite, vagando pelas sombras das árvores e marquises.  

Quando tive a certeza de que as ruas estavam praticamente desertas, passei em frente à lancheria e, com o auxílio de um martelo que havia comprado no comércio, fiz um buraco na vidraça, exatamente no local em que sempre me sento. Voltei para o hotel e fui dormir.
No outro dia acordei um pouco mais tarde. Saí do hotel e procurei uma lan house. Acessei o mensageiro e contatei Z.

R diz: Como vai? Está na cidade?

Z diz: Sim.

R diz: A que horas pode me encontrar e onde?

Z diz: Encontre-me as dezesseis e quarenta em frente ao cinema.

R diz: Está com a encomenda?

Z diz: Sim.

R diz: Ok. Estarei com o dinheiro.

Eu não conhecia Z pessoalmente, somente pelos poucos contatos via internet. Tínhamos um ramo de atividade em comum, o que propiciou o contato pessoal. Saí da lan house e fui almoçar.

Eram três da tarde quando me sentei na mesma mesa da lancheria, pedi uma cerveja e o jornal do dia. Às dezesseis horas o veículo prata subia lentamente pela Marquês do Herval, como fazia todos os dias. Posicionei a pistola por baixo de meu braço esquerdo e coloquei o silenciador no furo da vidraça.

As pessoas na rua estranharam quando aquele veículo colidiu no poste da esquina, subindo pela calçada. O garçom, o gerente da lancheria e eu, corremos para fora para ver o que estava acontecendo. Algumas mulheres começaram a gritar quando viram a cabeça do motorista esfacelada e pedaços de cérebro e couro cabeludo grudados no para-brisa.

Olhei o relógio e faltavam vinte e cinco minutos para às dezessete horas. Paguei o garçom na rua mesmo e me dirigi até o cinema, cerca de setenta metros da lancheria, na mesma rua. Entrei no bar que funcionava junto ao cinema e pedi uma cerveja. Ao olhar para a rua avistei Z.

Reconheci-o imediatamente pois era a única pessoa parada que olhava para todos os lados à procura de alguém. Chamei-o e convidei-o para sentar-se comigo em uma das mesas. Ele recusou a cerveja, estava com pressa.

- Trouxe?

- Sim. Aqui está.

- Ótimo. Aqui está o dinheiro.

Continua...

Por: roberyk

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