quarta-feira, 22 de maio de 2013

Crimes no Paraíso





Lá estava ele, nu, sozinho. O corpo coberto de lama. Olhou ao seu redor e não reconheceu aquele lugar. Não sabia onde estava. Sentiu uma forte dor no lado esquerdo do tórax. A chuva limpava a lama de seu corpo. Levou a mão no local da dor e sentiu um vazio, algo lhe faltava, uma costela. Não entendia. Aquelas luzes coloridas, aquela ardência nas narinas. Flashes. Sentia-se ora flutuando, ora caindo em um abismo. O que estava acontecendo?



Quando levantou o olhar naquela tarde ensolarada, no Paraíso, viu parado à sua frente, completamente nu como ele, aquele outro ser, um pouco diferente nas formas. Cabelos longos, olhos claros como o céu, o peito protuberante, curvas mais delicadas. Tinha um vão entre as pernas logo abaixo do umbigo.

Assim que fixou os olhos naquele vão, sentiu uma fisgada no cotoco protuberante que fazia parte de seu corpo, que tornava-o diferente do outro ser. Quando percebeu estava ereto, latejando. Não sabia por qual motivo sentia tanto calor, parecia que sua virilha pegava fogo, que suas entranhas reviravam. Suas narinas ardiam.

Aproximou-se daquele ser que lhe mostrava os dentes, era um sorriso, sim, um sorriso. Foi cativado.

Por muito tempo permaneceram nus naquele lugar, felizes, ingênuos. Ele sentia um afeto tão grande por ela que parecia fazer parte dele, que fora feita de um pedaço de seu próprio corpo. E aqueles olhos, a maneira como o olhava, como roçava seu corpo curvilíneo no dele, fazendo-o ficar tonto às vezes. Aquele peito diferente do seu parecia hipnotizar seus olhos.

Ela cochichou algo em seu ouvido. Ele tremeu. Suas narinas ardiam. Descobriu entre gemidos, gritos e desfalecimento do corpo em êxtase, para que servia aquela racha entre as pernas dela. Seu cotoco, que passava a maior parte do tempo ereto, encaixava-se perfeitamente naquele vão, eram um só corpo naquele momento, que foram feitos um para o outro, que se completavam. Tomou-se de uma alegria nunca provada antes.

Já havia sentido algo parecido, de outra maneira. Mas não tão intenso, tão avassalador, tão dominador.

Exaustos, adormeceram. Sonhou com uma voz gritando com ele, dizendo que era um pecador, um traidor. Aquela voz dizia-lhe que havia provado da fruta proibida. O céu escureceu, ouvia estrondos e aquela voz enfurecida chamando-o de desgraçado. Sentiu uma imensa dor na virilha. Um gosto amargo na boca, suas narinas queimavam. Tinha calafrios.

Barulho de sirenes, gritos, passos apressados. A sensação de cair em um abismo sem fim voltou.

Abriu os olhos e só viu aquele clarão no céu e alguém chamando seu nome, Adão! Adão, desfaleceu.

Finalmente acordou daquele pesadelo. Estava deitado, imóvel. Percebeu o céu todo branco. Que havia outros como ele ao seu redor. Vestiam roupas brancas. Notou a presença de mais seres. Estranhamente sabia quem eram aqueles homens que trajavam roupas cinzas, cinturões e coturnos, que olhavam para ele balançando a cabeça. Pode ouvir a conversa deles com ar de deboche:

- Este aqui não precisa mais de cirurgia.

- E o outro viado onde está?

- Na delegacia. Chorando feito menininha. Mas você não vai acreditar. Adivinha quem é a bichinha? Pago teu almoço.

- Sei lá. Viado para mim é tudo viado, nada mais.

- É o Tenente Glaucio.

- O Glaucio? Aquele que sempre fode nossas vidas? Que anda sempre com o peito estufadinho, tipo mamãe olha como sou macho?

Quem diria heim?

- Pois é. Já vi marido trair mulher. Mulher trair marido. Mas esse caso é o primeiro. Não é que a bichosa aqui vivia com o Glaucio na maciota? Resolveu provar da fruta proibida. Sabe com quem? Pasme agora. Com a Eva, aquela gostosa da irmã do Tenente. Ela mesmo.

- Tais brincando? Não!
- É, foi pego no motel Paraíso pelo parceiro. O Glaucio enlouqueceu.

Dupla traição. Deu seis tiros na irmã. O corpo tá lá no motel ainda, aguardando a perícia. Não satisfeito, além de arrancar uma costela desse daí, cortou o pau dele e enfiou na garganta da irmã.

Encontraram esse infeliz atrás do cemitério, no meio do mato.

- Que horror.

- Mas tem mais. Sabe aquela cocaína que te falei? A Polícia Federal tá lá na DP. Parece que o Glaucio tava envolvido no tráfico.

Arrombaram o apartamento dele e acharam 50 trouxinhas de pó, pronto para a venda. O cara tá fodido.

- Que filho da puta, safado.

- Não terminou. Meu bruxo lá da DP ainda falou que estavam monitorando o Glaucio há tempos. O esquema de drogas dele era feito de dentro do quartel. Lembra que quando ele estava de serviço nunca saí para a rua? Ficava a noite toda trancado na sua sala, na frente do PC?

- Agora caiu a ficha cara! O viado sempre falava que era contra a filosofia do comando da Compania e por isso não saía nem nas operações. Caralho.

Nós estourando as bocas, arrochando vagabundo e o viado nos traindo.

 - Que merda.

 

 

Diário de PM/BM

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