Fssssssssssss
- Caralho! Desce capitão. Desce porra. Deita, deita que tão atirando em nós. Deita porra!
- Caralho! Desce capitão. Desce porra. Deita, deita que tão atirando em nós. Deita porra!
Pude
ver as faíscas no asfalto a poucos metros da minha cabeça. Era fuzil caralho.
Não conseguia ver o atirador mas tinha certeza que ele nos via.
Rastejei
para a parte de trás da viatura segundos antes daquela bala pipocar onde eu
estava. Merda, isso é hora de morrer? Um projétil atingiu a viatura, dois,
três.
Olhei
para o colega da Civil que estava se protegendo na coluna de um prédio e
gritei:
-
Cara, olha quem é que está atirando porque daqui eu não vejo!
- Eu é
que não vou botar minha cara pra fora – retrucou ele, encolhido no canto.
A
viatura dele virou peneira. Outro projétil, ouvi o barulho de vidros, deve ter
pego no pára brisa. O atirador não parava. Fique contando os tiros, bingo,
cessou, agora tinha certeza que era fuzil e o filho da puta estava trocando o
carregador.
Mal
deu tempo de sair de trás da viatura e ma jogar dentro de uma oficina mecânica
e começou a saraivada outra vez. Fui achar o capitão nos fundos, olhos
vidrados, atônito.
Não
queria desenvolver a visão de túnel, estava meio surdo, queria ficar lúcido,
respirei fundo, peguei o capitão pela gola da farda e puxei contra mim.
-
Capitão! Capitão! - parecia que não me ouvia então dei-lhe um bofete – Presta
atenção Capitão, fica atrás de mim e cuida a retaguarda.
Tentei
ver onde estava o atirador. As balas zuniam. Pude ver mais uma estilhaçar o
giro flex da viatura. Merda. Por essa ninguém esperava. Agora podia ouvir os
gritos.
Pessoas
correndo feito baratas tontas, curiosos. Queria avançar, encher aquele corno de
bala. Mas ao olhar para o revólver me senti inútil.
O
atirador estava a mais de trezentos metros no mínimo e meu revólver não
alcançaria o alvo. Caralho.
Repentinamente
os tiros cessam. Alguém grita que estão fugindo. Por sorte a viatura ainda
conservava os pneus cheios. Começamos então a perseguição.
Não
rodamos nem três quilômetros e os pneus estouraram, os cretinos encheram a
pista da rodovia de miguelitos.
- Merda. Ficamos a pé Capitão.
- Merda. Ficamos a pé Capitão.
Terminara
ali minha participação naquele assalto cinematográfico aos dois bancos. E
pensar que minutos antes estávamos, eu e o Capitão, contando piadas dentro da
viatura enquanto nos deslocávamos para a cidade vizinha terminar um inquérito.
A vida é curiosa.
Não
sei de deus existe mesmo, se realmente não partimos antes da hora como pregam
por aí. Não sei se acredito em destino ou sei lá o quê. Lembro do acidente na
rodovia em que o carro saiu da estrada e capotou várias vezes, fiquei quase
deformado na época, mas sobrevivi.
Quando
finalmente a adrenalina baixou, eu olhei nossa viatura. Arregalei os olhos ao
ver o encosto de cabeça do banco da viatura perfurado por uma bala. Justamente
o banco em que eu sentara para conduzir a viatura.
Uma
onda de frio percorreu meu corpo, paralisei. Uma bala, apenas uma única,
miserável e certeira bala...
Por:
Roberyk
Diário
de PM/BM
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