terça-feira, 26 de março de 2013

Uma bala para Elvis



Fssssssssssss
- Caralho! Desce capitão. Desce porra. Deita, deita que tão atirando em nós. Deita porra!

Pude ver as faíscas no asfalto a poucos metros da minha cabeça. Era fuzil caralho. Não conseguia ver o atirador mas tinha certeza que ele nos via.


Rastejei para a parte de trás da viatura segundos antes daquela bala pipocar onde eu estava. Merda, isso é hora de morrer? Um projétil atingiu a viatura, dois, três.

Olhei para o colega da Civil que estava se protegendo na coluna de um prédio e gritei:

- Cara, olha quem é que está atirando porque daqui eu não vejo!

- Eu é que não vou botar minha cara pra fora – retrucou ele, encolhido no canto.

A viatura dele virou peneira. Outro projétil, ouvi o barulho de vidros, deve ter pego no pára brisa. O atirador não parava. Fique contando os tiros, bingo, cessou, agora tinha certeza que era fuzil e o filho da puta estava trocando o carregador.

Mal deu tempo de sair de trás da viatura e ma jogar dentro de uma oficina mecânica e começou a saraivada outra vez. Fui achar o capitão nos fundos, olhos vidrados, atônito.

Não queria desenvolver a visão de túnel, estava meio surdo, queria ficar lúcido, respirei fundo, peguei o capitão pela gola da farda e puxei contra mim.

- Capitão! Capitão! - parecia que não me ouvia então dei-lhe um bofete – Presta atenção Capitão, fica atrás de mim e cuida a retaguarda.

Tentei ver onde estava o atirador. As balas zuniam. Pude ver mais uma estilhaçar o giro flex da viatura. Merda. Por essa ninguém esperava. Agora podia ouvir os gritos.

Pessoas correndo feito baratas tontas, curiosos. Queria avançar, encher aquele corno de bala. Mas ao olhar para o revólver me senti inútil.

O atirador estava a mais de trezentos metros no mínimo e meu revólver não alcançaria o alvo. Caralho.

Repentinamente os tiros cessam. Alguém grita que estão fugindo. Por sorte a viatura ainda conservava os pneus cheios. Começamos então a perseguição.

Não rodamos nem três quilômetros e os pneus estouraram, os cretinos encheram a pista da rodovia de miguelitos.
- Merda. Ficamos a pé Capitão.

Terminara ali minha participação naquele assalto cinematográfico aos dois bancos. E pensar que minutos antes estávamos, eu e o Capitão, contando piadas dentro da viatura enquanto nos deslocávamos para a cidade vizinha terminar um inquérito. A vida é curiosa.

Não sei de deus existe mesmo, se realmente não partimos antes da hora como pregam por aí. Não sei se acredito em destino ou sei lá o quê. Lembro do acidente na rodovia em que o carro saiu da estrada e capotou várias vezes, fiquei quase deformado na época, mas sobrevivi.

Quando finalmente a adrenalina baixou, eu olhei nossa viatura. Arregalei os olhos ao ver o encosto de cabeça do banco da viatura perfurado por uma bala. Justamente o banco em que eu sentara para conduzir a viatura.

Uma onda de frio percorreu meu corpo, paralisei. Uma bala, apenas uma única, miserável e certeira bala...

Por: Roberyk

 

 

Diário de PM/BM

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