O
costume do cachimbo deixa a boca torta. De certo modo, as novas gerações das polícias
têm este desafio pela frente: desentortar as bocas tortas acostumadas com o
cachimbo. Mudar paradigmas, práticas equivocadas que se arrastaram durante
anos, e que não se sustentam no contexto em que vivemos, com a consciência que
possuímos.
O
que são as novas gerações? Este não pode ser um conceito cronológico, baseado
em tempo de serviço ou data de nascimento. Se a idéia é excluir os antigos,
cometeremos uma injustiça ao anular a boa vontade de alguém com muito tempo de
serviço. Se, por outro lado, damos carta branca aos modernos, corremos o risco
de empoderar um perfil alinhado com o que há de pior. Naturalmente, um fluxo
contínuo de mentalidades e práticas é necessário, até para garantir a
contradição, o ajuste de trajetória, que proporciona evolução. Mas sempre
deve-se observar os valores de cada um.
Quanto
maior o grau hierárquico, mais responsabilidade: nós, oficiais e delegados,
temos que corrigir a boca torta da desmotivação, da presunção de perversidade,
da desconfiança de (ab)uso dos subordinados como escravos dos nossos devaneios.
Extinguir esta visão, criar uma consciência de que este modelo de gestão
pertence ao passado, é fundamentalmente papel dos que estão mandando, e isso se
faz com medidas e conversas claras.
Claro
que há o fator decisório governamental – a política que sempre alega falta de
recursos. Mas antes disso vem o respeito e dignidade internos, o
estabelecimento de limites para aqueles que ousarem desestabilizar a condição
humana e cidadã de cada policial, seja ele quem for. Muitas bocas permanecem
tortas porque não acreditam que estes limites existam; ou porque de fato não
existem, ou porque não vêem demonstrações claras de que eles são aplicados.
A
persistência neste ambiente, nos leva à confusão entre o bom desacreditado e o
mau que se aproveita do descrédito para estabelecer suas raízes. Diferenciar um
do outro é difícil, porém, o primeiro certamente mudará sua postura ao perceber
mudança de contexto. Não à toa o estadista inglês Benjamin Disraeli dizia que
“Todo poder é confiança”. Sem confiança, pois, não há poder legítimo.
Autor: Danillo Ferreira - Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum
Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. |
Contato: abordagempolicial@gmail.com
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