“Qual o seu projeto ao entrar na polícia?”,
perguntava o instrutor nos dias de apresentação da turma, quando através dos
anseios individuais o professor tentava extrair um perfil daqueles que seriam
seus alunos durante o semestre. Após a Academia, percebe-se o quanto diferem,
de fato, as intenções de cada policial ao operar a estrutura que lhe cabe da
polícia. Neste post vamos analisar justamente essas pretensões individuais, que
podem ser agregadas em três grupos: o Projeto de Poder, o Projeto de Polícia e
o Projeto de Segurança Pública.
Certamente os nomes não expressem bem os grupos,
algo comum a qualquer generalização, pois ignora as interações, entradas e
saídas que cada grupo possui, e cada policial em si. Mas, como todo texto
publicado neste blog, trata-se apenas de uma provocação à discussão. Vamos lá:
Projeto de Segurança Pública
No primeiro grupo temos os policiais que têm em
mente um projeto de segurança pública. Melhor dizendo, esses policiais são
servidores públicos no sentido amplo da palavra. Entendem a natureza
comunitária de sua função, e reconhecem o cidadão como seu cliente. Para ele, a
polícia é apenas uma estrutura montada para garantir os direitos e garantias da
sociedade, vendo em todas as mudanças que garantam o desempenho dessa missão algo
benéfico.
O policial que pensa na segurança pública
geralmente é pragmático, tem foco nos resultados, e está desvinculado e
descomprometido com qualquer tipo de fórmula pronta, ao tempo em que se mostra
aberto a críticas, sugestões e mudança de rumos.
Projeto de Polícia
“Corporativista” é a palavra-chave para designar
este policial. Ele não está ligado ao fim social da corporação, mas à
corporação em si. Aceita mudanças e adaptações, contanto que preserve o
espírito que julga ser a essência da instituição. Vê as críticas como algo que
diminui a corporação, e faz de tudo para agregar valor a ela, mesmo que se
trate de mera fachada.
Defende altos salários, viaturas novas, repartições
luxuosas, regalias e privilégios, sem necessariamente se importar com as
contrapartidas sociais. Chega a ficar indignado quando vê policiais que
“mancham” a instituição, notadamente quando se trata de corrupção – mas tem
pudores quando se faz necessário denunciar um colega.
Projeto de Poder
O policial que desempenha apenas um projeto de
poder se utiliza de práticas como as citadas acima, convenientemente adequadas
ao público que o circunda. Em vez de ter o cidadão ou a corporação como fim,
possui ambos como meio. É capaz tanto de desmerecer e subjugar um como o outro,
pois visa apenas o fim pessoal em suas ações. Aqui se enquadra o corrupto, ou
mesmo aquele que age visando uma função ou cargo.
A ânsia pelo poder faz o policial fingir falsas
indignações, elogiar mentirosamente, omitir-se à vista do mal, punir inocentes
e absolver culpados. O projeto de poder segue à máxima que diz que “onde há um
senhor, há um escravo”, de modo que o escravo fatalmente trabalhará, às vezes
inconscientemente, para tornar viável a ascensão do senhor. “Perversidade”,
“covardia” e “manipulação” são palavras-chave aqui.
* * *
Como dito, a divisão feita é uma grosseira
generalização, mas cada policial certamente encontrará um pouco de si em um ou
outro grupo. Dispensando julgar qual dos três é o melhor projeto, deixo ao
leitor a tarefa de autoreflexão, e identificação em seu meio de quem age de
qual modo.
Autor: Danillo Ferreira - Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com
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