Conforme a mitologia grega, o herói e semideus Prometeus, um dos
Titãs, irmão de Atlas, roubou o fogo do domínio dos deuses e entregou-o aos
homens, sendo por isto punido pelo deus maior Zeus, que o condenou a ser atado
a uma rocha, onde ficaria exposto aos ataques diários de um abutre que lhe
devoraria eternamente o fígado, único órgão do corpo humano que, como todos
sabemos, se regenera continuamente, tendo, em conseqüência disso, tal herói
recebido um castigo teoricamente interminável. Como conseqüência para os
mortais, conforme a lenda, hoje em dia, ainda por castigo, o fogo escapa ao
domínio humano e, transformando-se no monstro dos incêndios, ceifa centenas de
vidas e causa prejuízos imensos.
Fato comprovava
500.000 a.C: O ser humanóide já
utilizava o fogo, quando encontrado na natureza, para proteger-se de animais
e/ou esquentar e iluminar suas cavernas; ainda não o produzia, mas conhecia seu
poder;
130.000 a.C: Conservação e culto ao
fogo;
10.000 a.C: Invenção dos primeiros
equipamentos de ignição: isqueiro rudimentar (pedra de centelha), produção de
fogo e chamas (tipo broca e fricção);
1.700 a.C: O imperador Hamurabi, da
Babilônia, criou as primeiras regras de convivência comunitária que foram
registradas pela história do mundo, o famoso Código de Hamurabi, onde, entre
elas, estavam inseridas também as primeiras normas de prevenção contra incêndios.
Código este do qual, ate os dias atuais, 282 artigos transformaram-se em
jurisprudência.
850 a.C: - Mesopotâmia - Primeira representação
pictórica de um
combate a incêndio: Alto-relevo em alabastro.
564 a.C: - China - Registro escrito do que se pode dizer
que foi o primeiro agrupamento de bombeiros civis oficialmente instalado. HERONIS SPIRITALIA Original em latim da
primeira bomba portátil do mundo, inventada por Ctesibius (250 a.C) e
aperfeiçoada por Heron de Alexandria.
Registros de alguns fatos sobre a criação dos Corpos de Bombeiros
O MODELO ROMANO
3e séc.
a.C: Império Romano - Primeiros grupos de escravos bombeiros
comunitários, bem como a criação de primeiras guarnições de escravos
particulares para combate a incêndios;
250 a.C.: Alexandria - O
engenheiro Ctesibius inventa, no Egito, a primeira bomba manual portátil de
pistão (com um cilindro, tipo ampola injetora) para combate a incêndios, sendo
aperfeiçoada posteriormente (com dois pistões) pelo matemático e mecânico grego
Heron (séc. I d.C.). Cópia de sua descrição original, em latim, feita por
Vitruvius, matemático e mecânico romano, em seu tratado de arquitetura, mais de
150 anos apos sua invenção (24 a.C.), encontra-se junto a um espécime similar, advinda
do Arsenal de Marinha de D. Pedro II, em 1856, que foi a primeira bomba manual
de nosso Corpo de Bombeiros, atualmente existente no Centre Cultural e
Histórico do Corpo de Bombeiros.
1º séc. a.C.: Primeiros bombeiros
militares recrutados entre legionários aposentados.
70 a.C.: Roma - Primeira brigada particular para combate
a incêndios (cônsul Crassus).
24 a.C.: Roma - Brigadas de escravos particulares para
combate a incêndios (diretor de policia Rufus);
21 a.C.: Roma - Guarnição de 600 escravos para defender
a cidade de Roma (Imperador Augustus).
1 a.C.: Roma - Orbe - Primeiros legionários bombeiros
nas províncias romanas.
6 d.C.: Roma - Urbe - Primeiro Corpo de Bombeiros
Militar do mundo oficialmente constituído, composto de 7 mil legionários
bombeiros, divididos em sete coortes, só para defender a cidade de Roma: as Cohortes
Vigilum.
O MODELO PORTUGUÊS
1395 - (Lisboa) - Primeira brigada de incêndio de
cidadãos, por Carta Régia de D. João I.
1886 - Lisboa - Surge oficialmente à primeira
Associação de Bombeiros Voluntários.
1930 - Lisboa - E criada a Liga dos Bombeiros Portugueses.
1979 - Lisboa - Foi instituído o Serviço Nacional de
Bombeiros,
congregando bombeiros civis e militares, profissionais ou voluntaries.
O MODELO FRANCÊS
1763 — Paris — O general Pierre Morat cria os seis
primeiros grupos de bombeiros civis, não remunerados, cognominados de Gardes Pompes.
1792 - O general Napoleão Bonaparte, percebendo que os
Gardes Pompes não funcionavam, semimilitarizou-os sob o nome de Compagnie de
Pompes Publiques. Eram três companhias (oito chefes e 270 homens) com a
obrigação de usar um sabre-briquet como distinção. Desfilaram pela primeira vez
em uniformes em 1795. Por problemas financeiros, relaxaram a disciplina. Ainda
não eram militares de verdade.
1810 - Aconteceu o grande incêndio da Embaixada da
Áustria, durante uma festa em homenagem a Napoleão, agora Imperador da Franca,
quando morreram muitos membros da realeza. Por causa disso, o Imperador
descobriu que os bombeiros não eram confiáveis e eram incapazes de cumprir
ordens.
18 de setembro de 1811 - Napoleão
militariza definitivamente o Corpo de Bombeiros. Cria o Bataillon des Sapeurs
Pompiers, sob o controle direto do ministro do Interior, com leis militares e
com direito a um soldo. Eram 576 homens divididos em quatro companhias, todos usando
obrigatoriamente fuzil-baioneta, comandados pelo chefe de Policia.
20 de marco de 1818 - (fogo e
vinho - Sexta-Feira Santa) - primeira grande prova de fogo para os novos
bombeiros militares. Durante o combate ao incêndio na Comedie Francaise, falta
água e, graças à engenhosidade e autoridade militar dos bombeiros, o fogo foi apagado
com vinho, "cedido graciosamente" pelos comerciantes e moradores
locais mais abastados, diretamente de seus tonéis particulares, para os
carros-pipa do Corpo de Bombeiros.
7 de novembro de 1821 - O Corpo de
Bombeiros e integrado
definitivamente as Forças Armadas, porém ainda sob o comando do chefe de
Polícia.
1822 - O Corpo de Bombeiros recebe, agora em
definitivo, o comando de um coronel do Exército e passa a ser considerado uma
força auxiliar do Exército, podendo atuar tanto na paz como nas frentes de batalha,
porque os sapadores bombeiros eram os principais homens encarregados de, com
suas ferramentas de sapa, desmontar bombas ou minas, plantadas ou caídas,
explodidas ou não, deixadas pelo inimigo, e assim até os dias atuais, apesar de
agora já existir um Grupo Especial Antibombas da Polícia para casos de
terrorismo. Atuou nas 1ª e 2ª Grandes Guerras Mundiais.
1830 - Nova revolução francesa. O Corpo de Bombeiros e
ainda
mais militarizado. A partir desse ano os integrantes são todos
obrigados a aprender a ler e escrever, bem como fazer ginástica pesada, diurna
e noturna.
1940 - 2ª Guerra Mundial - Com a ofensiva alemã, Paris
e ocupada. Os alemães desmobilizam o Exercito francês, menos os Corpos de Bombeiros,
que continuarão militares, porem agora sob o comando alemão do Regimento
Sachsen de Engenharia. Os alemães têm consciência de que somente a disciplina
militar faz funcionar os Corpos de Bombeiros. Os bombeiros continuam a
participar de todas as atividades de defesa civil, incluindo-se agora o
transporte de refugiados, feridos, distribuição de rações, controle de arquivos
militares etc.
1944 - Incêndio no Grand Palais - Os bombeiros ficam
entre dois fogos. Os alemães cercam os maquisards no Grand Palais e ateiam fogo
no prédio. São necessárias três horas de negociações para que os alemães permitissem
aos bombeiros apagar o incêndio. Dois dias depois, em outro grande incêndio, os
bombeiros entram em choque com os alemães e são presos e maltratados. 1965 - O
Batalhão de Sapadores Bombeiros e integrado a Arma de Engenharia do Exercito.
1967 — Pela sua eficiência, importância e competência,
o Bataillon des Sapeurs Pompiers e agora transformado em Brigada do Exercito:
La Brigade de Sapeurs Pompiers, tendo pela primeira vez o comando de um general
(6 mil homens divididos em 78 centros de socorro). Ainda neste ano criou-se
então, no seio da Brigada, a Defesa Civil (Corps de Defense) com 462 homens.
São criadas as Colunas Moveis de Socorro para casos de emergências diversas,
incêndios em florestas, auxílios humanitários no pais e no estrangeiro,
calamidades publicas em quaisquer partes do mundo etc.
1968 - Criada a primeira Unidade de Instrução de
Segurança Civil (UISC-1), encarregada de dar instruções para o publico e da
formação de novos voluntários de defesa civil.
1981 - E criação um quartel só para a Defesa Civil,
porem sempre administrado pela Brigada. A Direção Nacional de Defesa Civil
continua sob a supervisão geral do ministro do Interior (desde 1811), porem sob
o controle e a organização diretos dos bombeiros militares.
2000 - O Corpo de Bombeiros Militar possui agora, só
para Paris, 7 mil homens, fora os bombeiros voluntários. Em toda a Franca, os
Corpos de Bombeiros Voluntários permanecem organizados, instruídos e controlados
pelos bombeiros militares. A formação de oficiais e praças e similar a do
Exercito. Os oficiais podem advir da Academia de Bombeiros ou da tropa BM,
porem cerca de 75% provêem da Arma de Engenharia do Exercito, com reciclagem na
Brigada de Sapadores Bombeiros.
O MODELO BRASILEIRO
1789 - Rio de Janeiro - A bomba manual de dois
cilindros e utilizada oficialmente no grande incêndio que destruiu o
Recolhimento de Nossa Senhora do Parto, que existia próximo a Praça XV (duas
pinturas retratando o fato existem no Museu do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro).
1797 - Rio de Janeiro - Através do Alvará Régio de 12
de agosto o Arsenal de Marinha passou a ser o órgão publico responsável pela extinção
de incêndios na cidade.
1856 - Rio de Janeiro - Baseado nos modelos militar
francês e civil português, porem ainda com resquícios das influencias inglesa e
alemã, surge no Brasil o primeiro serviço publico de combate a incêndios, fundado
pelo imperador D. Pedro II, através do decreto imperial n- 1.775 do dia 2 de
julho, que começou seus trabalhos utilizando bombas manuais e a vapor
francesas, inglesas e brasileiras, respectivamente dos Arsenais de Guerra e
Marinha, Repartição de Obras Publicas e Casa de Correção, todos agora reunidos
numa só órgão: o Corpo de Bombeiros Provisório da Corte (CBPC).
1860 - Rio de Janeiro - E regulamentado
definitivamente o Corpo de Bombeiros da Corte (CBC), sob a jurisdição do
ministro da Justiça, recebendo graduações militares.
1880 - Rio de Janeiro - O Decreto imperial 7.766, de
19 de julho de 1880, militariza definitivamente o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro,
concedendo graduações militares a seus oficiais com o grau
Maximo de tenente-coronel.
1892 — Joinville (SC) - Surge o primeiro Corpo de
Bombeiros Voluntário do Brasil.
1908 - Rio de Janeiro (DF) - Inaugurado o novo e
definitivo Quartel Central do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, obra do coronel
do Exercito, engenheiro Francisco Marcelino de Souza Aguiar, ex- Comandante-Geral
do Corpo de Bombeiros da Corte Imperial de Dom Pedro II.
2 de julho de 1941 - Rio de
Janeiro (DF) - Na Praça da Republica 35, Centro, RJ, ao lado do QCG, foi
inaugurada a Capela Católica do Corpo de Bombeiros, que leva o nome do primeiro
padroeiro dos bombeiros do Brasil: São João de Deus.
2 de julho de 1977 - Rio de
Janeiro - Criado o primeiro Museu de Bombeiros do Brasil.
1983 - Rio de Janeiro - Foi instituída, pela primeira
vez no Brasil, a Secretaria de Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro,
ficando o Corpo de Bombeiros sob sua direta subordinação.
1992 -Joinville - Criado o primeiro Museu Nacional de
Bombeiros.
1997 — Rio de Janeiro - Criado o primeiro Corpo de
Bombeiros Voluntários do Rio de Janeiro.
2003 - O Museu Histórico do Corpo de Bombeiros foi
rebatizado com o nome de Centro Histórico e Cultural do Corpo de Bombeiros
Militar do Estado do Rio de Janeiro, estando nele inclusa a Banda Sinfônica da Corporação.
Nota:
Os fatos narrados neste resumo histórico foram compilados dos arquivos
do Corpo de Bombeiros, de algumas publicações brasileiras confiáveis e/ou
traduzidos dos seguintes livros estrangeiros da Franca - Esprit de feu, Manuel
du Sapeur-pompier e Sauver ou perir; da Alemanha – Manner ohne Waffen; da Suíça
- Die Feuerwehren der Welt; da Áustria –Das Grosseoberösterreichische
Feuerwehrbuch; da Itália - Pompieri (Vigilli Del Fuoco); dos Estados Unidos -
Discovering Américas'Fire Museums; de Portugal - Do Exercício do Fogo e de
diversos outros escritos de origem brasileira ou ultramarina.
*Asdrúbal da Silva Ortiz e coronel bombeiro militar da reserva
remunerada e pesquisador autodidata. Exdiretor do Museu Histórico do CBMERJ
recebeu o titulo de acadêmico da Cadeira Especial 16 da Academia de História
Militar Terrestre do Brasil, em 26 de novembro de 2003. E-mail: cbvrj@ig.com.br
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