Paramos
a viatura em frente ao número 666 da Rua Gênesis. A mulher, aos prantos,
apontava para os fundos, mais precisamente para o sobrado nos fundo do terreno.
Rapidamente ela nos contou que seu ex-namorado estava lá, bêbado, drogado,
dizendo que iria se enforcar caso ela não reatasse o relacionamento. Ela não
queria mais, estava cansada de tanto apanhar. De ver toda noite aquele homem,
ou o que restou dele, chegar em casa embriagado, com fedor de prostíbulo e
perfume vagabundo. Cansou de ver aquilo que julgava ser sua alma gêmea, jogado
aos cantos da casa com uma seringa espetada no braço. Não mais, queria que ele
morresse, pois só assim livrar-se-ia de tanto sofrimento.
Paramos
em frente ao sobrado. Uma casa rústica, sem pintura, com cortinas vermelhas
encardidas adornando as janelas descascadas. Ele estava debruçado em uma delas,
a da esquerda, de onde pudemos ver o alçapão no forro aberto e de onde saía
aquele maravilhoso laço feito de corda, lindo. Tentamos o diálogo quase que em
vão. Ele só sairia se ela voltasse para ele, queria de todas as maneiras,
provar que aquilo tudo era passageiro, que não teve a intenção de quebrar o seu
nariz outra vez, que foi acidente, que a amava, mais que a si mesmo. Ela
continuava ao lado da viatura aos prantos, queria sumir.
Deixei
meu parceiro conversando com ele para distraí-lo, enquanto subia pela escada
lateral que dava acesso ao segundo piso. Subi com a certeza de que iria por fim
naquela situação. Quase quebrei a perna quando uma das tábuas partiu-se ao
meio. Segui em frente até chegar à porta que dava acesso à cozinha. Estava
trancada. Pela ventarola pude ver a porta do quarto semi aberta.
Chamei
pelo seu nome. Disse que entendia o que estava se passando e que estava ali
para ajudá-lo. Que ele poderia conversar comigo e desabafar. Como policial
tinha o dever de preservar vidas, de fazer o possível para que tudo terminasse
bem, para todos.
Ouvi o barulho da janela se fechando ao mesmo tempo
em que meu parceiro gritou lá de baixo que ele iria se matar. Aquilo foi o
suficiente para que eu arrebentasse a porta e entrasse. Corri para o quarto e
cheguei a tempo de ver a cadeira sob seus pés cair lentamente, enquanto seu
corpo começava a se debater. Consegui segurá-lo pelas pernas, com força. E foi
com mais força ainda que puxei seu corpo para baixo, até ouvir seu pescoço
estalar quando o laço apertou ao redor de de sua ínfima existência.
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Este
fato é verdídico, porém com um desfecho diferente. Na realidade eu e meu colega
entramos no quarto a tempo de cortar a corda e impedir o suicídio. O mais
pitoresco e tragicômico nesse espisódio foi que, já no hospital, o cidadão não
queria de maneira alguma tomar uma injeção porque tinha medo.
Diário
de PM/BM
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