domingo, 8 de setembro de 2013

A GUERRA DAS MEDALHAS




Meus amigos, militar é uma espécie de gente interessante. Enquanto outras categorias profissionais brigam por melhores salários e condições de serviço para serem reconhecidas, os militares se contentam com elogios, medalhas, brevês e fardas diferentes. É só dar um elogio na ficha de um militar para deixá-lo todo satisfeito. Já com relação à medalha, aí a coisa é diferente: é o ápice da carreira, pois não ficará escondida numa ficha, mas ficará bem visível na farda que ele a ostentará todo garboso.
 



Quando o objetivo for que o militar trabalhe mais e com mais afinco é fácil: é só lhe dar uma farda diferente (de preferência preta), depois submetê-lo a um curso no qual não se aprenderá quase nada, mas se sofrerá feito “sovaco de aleijado”, em seguida coloca-se um brevê e o chama de “especial”, pronto.

Em Tão Tão Distante não é diferente, porém naqueles tempos remotos a questão das medalhas era um tema delicado. O critério para a concessão delas era misterioso e a preferência para a medalha do “ranca dentes”, por exemplo, era para os que se destacavam na “abrição de portas” de gabinetes, para os melhores servidores de café e àqueles que faziam os elogios mais rasgados aos seus chefes.

Então quem ganhava ficava orgulhoso e quem não ganhava desdenhava dos ‘medalhados’ mas, a bem da verdade, com uma pontinha de inveja. Foi aí que TTD completou 200 anos de glória e heroísmo. Para comemorar esse fato histórico, e como o governador não aumentou o salário, o comandante resolveu instituir a medalha dos “200 anus”. Bem, a princípio os ganhadores, de tão honrosa comenda, eram somente as autoridades e os aduladores de até o 17° escalão do governo.

Meus nobres, o problema começou quando o comandante, em uma formatura, resolver agraciar alguns policiais e mandou chamar a praça mais antigo de cada unidade. Mas naquele dia histórico, o mais antigo do 1.111.111° batalhão não estava, então o Fox mandou ir o mais antigo presente. Até ai tudo bem. Mas...

Mas na outra semana, quando o mais antigo de fato chegou, a tensão se instaurou. A medalha era dele, argumentava. O outro retorquia que era o mais antigo “presente”. Os dois tinham argumentos igualmente justos e convincentes, mais ninguém queria ceder e a tensão alcançou níveis insustentáveis que poderia abalar o espírito de camaradagem que existia entre eles até então. Nessa guerra de nervos, uma parte teria que ceder. Então o ‘da medalha’ achou uma saída engenhosa: o ‘antigão’ tiraria um serviço de 24 horas para ele no final de semana que ele passaria a medalha. Os dois cederiam.

Pois é, final feliz? Bem, não foi bem assim, três dias depois aparece no batalhão um policial de agasalho, tênis sujo, com uma sacolinha plástica, dessas de supermercado, cheia de medalhas e ficava distribuindo na guarda a quem passava, era ordem do comandante. Era só pegar a medalha e assinar em uma folha. Simples assim. Nem ao menos uma continência nesse momento glorioso era exigida dos militares.

E nosso antigão? Bem foi um momento de desilusão total, pois a medalha dos “200 anus” deveria ser mais restrita, pensava ele, e sentiu que ela perdia muito do seu valor honorífico com essa distribuição indiscriminada. Sim, mas o problema maior não foi esse.

Após saberem do ocorrido, vários outros militares vieram, com um sorriso indisfarçado no rosto, propondo trocas de serviço por medalhas ao nosso insigne antigão.

FIM

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