Meus amigos, militar é uma espécie de gente
interessante. Enquanto outras categorias profissionais brigam por melhores
salários e condições de serviço para serem reconhecidas, os militares se
contentam com elogios, medalhas, brevês e fardas diferentes. É só dar um elogio
na ficha de um militar para deixá-lo todo satisfeito. Já com relação à medalha,
aí a coisa é diferente: é o ápice da carreira, pois não ficará escondida numa
ficha, mas ficará bem visível na farda que ele a ostentará todo garboso.
Quando o objetivo for que o militar trabalhe
mais e com mais afinco é fácil: é só lhe dar uma farda diferente (de
preferência preta), depois submetê-lo a um curso no qual não se aprenderá quase
nada, mas se sofrerá feito “sovaco de aleijado”, em seguida coloca-se um brevê
e o chama de “especial”, pronto.
Em Tão Tão Distante não é diferente, porém
naqueles tempos remotos a questão das medalhas era um tema delicado. O critério
para a concessão delas era misterioso e a preferência para a medalha do “ranca
dentes”, por exemplo, era para os que se destacavam na “abrição de portas” de
gabinetes, para os melhores servidores de café e àqueles que faziam os elogios
mais rasgados aos seus chefes.
Então quem ganhava ficava orgulhoso e quem
não ganhava desdenhava dos ‘medalhados’ mas, a bem da verdade, com uma pontinha
de inveja. Foi aí que TTD completou 200 anos de glória e heroísmo. Para
comemorar esse fato histórico, e como o governador não aumentou o salário, o
comandante resolveu instituir a medalha dos “200 anus”. Bem, a princípio os
ganhadores, de tão honrosa comenda, eram somente as autoridades e os aduladores
de até o 17° escalão do governo.
Meus nobres, o problema começou quando o
comandante, em uma formatura, resolver agraciar alguns policiais e mandou
chamar a praça mais antigo de cada unidade. Mas naquele dia histórico, o mais
antigo do 1.111.111° batalhão não estava, então o Fox mandou ir o mais antigo
presente. Até ai tudo bem. Mas...
Mas na outra semana, quando o mais antigo de
fato chegou, a tensão se instaurou. A medalha era dele, argumentava. O outro
retorquia que era o mais antigo “presente”. Os dois tinham argumentos
igualmente justos e convincentes, mais ninguém queria ceder e a tensão alcançou
níveis insustentáveis que poderia abalar o espírito de camaradagem que existia
entre eles até então. Nessa guerra de nervos, uma parte teria que ceder. Então
o ‘da medalha’ achou uma saída engenhosa: o ‘antigão’ tiraria um serviço de 24
horas para ele no final de semana que ele passaria a medalha. Os dois cederiam.
Pois é, final feliz? Bem, não foi bem assim,
três dias depois aparece no batalhão um policial de agasalho, tênis sujo, com
uma sacolinha plástica, dessas de supermercado, cheia de medalhas e ficava
distribuindo na guarda a quem passava, era ordem do comandante. Era só pegar a
medalha e assinar em uma folha. Simples assim. Nem ao menos uma continência
nesse momento glorioso era exigida dos militares.
E nosso antigão? Bem foi um momento de
desilusão total, pois a medalha dos “200 anus” deveria ser mais restrita,
pensava ele, e sentiu que ela perdia muito do seu valor honorífico com essa
distribuição indiscriminada. Sim, mas o problema maior não foi esse.
Após saberem do ocorrido, vários outros
militares vieram, com um sorriso indisfarçado no rosto, propondo trocas de
serviço por medalhas ao nosso insigne antigão.
FIM
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