Meus nobres leitores, a estória
de hoje é sobre necessidades fisiológicas do policial. Aparentemente o tema é
dos mais banais possíveis, porém nada pode ser mais falso do que essa
afirmação. Somente quem já passou por uma situação parecida com a do nosso
herói de hoje sabe do drama e desespero que pode acometer a um infeliz quando a
natureza o chama no momento e local errado.
Bem, o serviço de PO, além de
colocarem a alcunha depreciadora de “Cosme e Damião”que tanto irrita os POzeiros,
tem algumas peculiaridades e vicissitudes que só “puxando” uns seis meses pra
conhecer mesmo. Quem não é PM pensa que o serviço é tranqüilo, pois é só ficar
andando pra lá e pra cá alugando as vendedoras das lojas e pronto. Mas a
realidade é diferente, bem diferente...
Primeiro a escala é a pior do
batalhão. Além disso, enquantoa população chama os policiais que trabalham em
viatura de ‘policial’, o POzeiroé tratado por ‘seu guarda’. Até no quartel o
Pozeiro é discriminado, é só chegar 5 minutos atrasado que a caneta come,
enquanto os da RP só precisam ligar e avisar que vaichegar duas ou três horas
atrasado que tá tudo resolvido. Pelo fato de pegarem menos ocorrência que o
pessoal motorizado, acabam por ganhar a pecha de muchibas e escamões. Enfim,
salvo raras exceções, é um serviço que é composto mais por novinhos mesmo, pois
os antigões querem distancia do PO.
Nosso personagem de hoje é um
sujeito de estatura mediana e magro. Bem humorado e gente finíssima. Devido ao
fato de seu rosto ser fino e sua pele branca (fica avermelhada quando fica
constrangido), ele ganhou a alcunha pouco graciosa de “cara de frango”. No mais,o
que pode ser destacado nele é a timideze a voz pausada e com uma tonalidade
meio fanha. Porém em seus comentários, ele consegue ser ácido e cômico ao mesmo
tempo. Até esse dia ele vivia acostumado com o tal do PO. Até a provação desse
dia...
Nesse dia histórico, um sábado
à tarde que estava quente feito o inferno, ele estava escalado em uma quadra
residencial de Tão Tão Distante. Depois de comer um estrogonofe de frango na
CABE-TTD, foi puxar seu POzinho. Pois é, nos dias normais aquela quadra já era
meio vazia, já sábado à tarde era deserta mesmo. O único lugar aberto naquele dia era um estande
de vendas de imóveis. E nesse estande só havia uma vendedora, muito bonita por
sinal. Então, quando a dupla de PO precisava tomar água, ia para esse local,
mas quando a necessidade era‘um banheiro’, eles andavam um bom bocado pra
chegar num boteco copo sujo que tinha em outra quadra.
Mas lá pelas duas da tarde,
nosso amigo sente um rebuliço estranho em seu estômago. Vou esperar para fazer
em casa, pensou ele. Mas a natureza não estava tão paciente naquele dia! Sentiu
novamente uma pontada no estômago e uma pressão insuportável. Cogitou soltar um
pouco do gás estomacal para aliviar a pressão no ventre, mas seria muito
arriscado naquelas circunstâncias. Então a solução seria ir até o bar copo sujo
para aliviar-se. Porém esse alvitre foi imediatamente descartado. Era longe
demais, não daria tempo. Então a única solução que havia era solicitar o
banheiro do estande.
Só elegeu essa solução, depois
de muito hesitar, por que definitivamente não havia outra. O estande era pequeno,
com ar condicionado e pouco isolamento acústico. Além disso, a vendedora era
muito bonita, o que só contribuía para aumentar o constrangimento de nosso
amigo. De repente se a moça fosse feia a vergonha seria menor, pensava ele. Mas
a natureza é implacável e ele teve que dominar sua timidez e pedir socorro. No
caminho até o estande por diversas vezes teve que parar e travar as pernas,
enquanto o suor descia, pois vinha uma pontada na barriga que até hoje ele não
sabe como conseguiu segurar. Mas enfim, chegou.
Quando pediu para usar o banheiro,
não pensava em nada na hora, pois osentimento de desespero para chegar ao vaso
era infinitamente maior. Nisso, seu companheiro de PO ficou na salinha
“forçando a amizade” com a menina. Porém meus nobres, quando finalmente sentou
naquele bendito vaso, ouviu-se da salinha uma explosão que assustou a donzela!
Depois do primeiro estampido, seguiram-se outros não menos barulhentos e
cadenciados, tipo uma bateria antiaérea.
Outra hora, o barulho era mais agudo e mais longo. Tudo isso acompanhado
por barulho de algo pesado caindo em água.
O constrangimento tomou conta
do lugar. Em seguida um terrível odor invadiu aquele ambiente, antes perfumado.
Então seu companheiro de PO, numa atitude reprovável e pusilânime, desistiu de
alugar a moça e abandonou-o ali. Depois de já aliviado, sua preocupação passou
a ser outra: como sair daquele banheiro? Se pudesse cavaria um túnel pelo chão
só para não deparar-se com a menina. E, depois de alguns minutos tomando
coragem, abre a porta e sai, mais vermelho que pimentão maduro, andando firme
em direção a saída, que parecia não ter mais os três metros de antes, mas três
quilômetros, e sem olhar para a moça diz um tímido ‘OBRIGADO!’.
FIM!
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