Muitas pessoas hoje
em dia, inclusive alguns oficiais e jornalistas que gostam de criticar a folga
do policial militar parecem desconhecer os efeitos de uma escala noturna no
nosso organismo.
Acham que é folga
demais para o policial, e que muitos outros profissionais folgam bem menos. A
resposta é que nossa qualidade de descanso é necessária pois nosso serviço é
diferenciado, temos que estar atentos a todo momento e a desatenção custa muito
caro, normalmente a nossa vida.
A reportagem abaixo explica
alguns efeitos e enumera conseqüências de uma rotina de noites mal dormidas:
Para o ser humano, o que
significa a perda de uma boa noite de sono? Apenas mal-humor ou cansaço físico
e mental? Alguns cochilos durante o dia? Uma noite de sono interrompido ou a
insônia significam muito mais, pois esses fatores exercem reflexos diretos na
saúde da pessoa e no desempenho do profissional. Mesmo que o colaborador
consiga manter os olhos bem abertos no seu posto de trabalho, isso não quer
dizer que ele terá um bom aproveitamento e conseguirá realizar suas atividades
com total eficiência. Também não se deve esquecer que um funcionário sonolento
é bem mais propício a acidentes de trabalho e se sua atividade for considerada
de risco, as conseqüências podem ser sérias.
Mas será que a insônia dos
funcionários deve ser uma preocupação das empresas? Se os dados da Sociedade
Brasileira do Sono forem levados em consideração, a resposta é afirmativa. Para
se ter uma ideia, segundo pesquisa realizada pela entidade, só no Brasil, 32%
da pessoas dormem mal. Diante disso, as empresas e os gestores devem ficar
atentos para o fato de que, durante o dia, o organismo humano consome
substâncias vitais ao seu equilíbrio e, ao mesmo tempo, produz elementos que
promovem a vontade de dormir.
Quando por algum motivo a
fisiologia do sono é contrariada, é desencadeada uma agressão às células que
precisam de repouso ou de trocas de substâncias. Isso não só traz conseqüências
internas imperceptíveis a olho nu, mas também mina as reservas físicas do
organismo. O reflexo dessa situação provoca sensações de cansaço, irritação,
sonolência, desempenho aquém do esperado, entre outros sintomas negativos. E a
recuperação física e mental do insone não se fará somente com apenas uma nova
noite de sono. Algumas vezes, é necessária até mesmo uma semana para que se
equilibrem todos os fatores envolvidos.
De
acordo com a neurologista Andrea Bacelar, da Clínica Carlos Bacelar/Rio de
Janeiro, a população adulta dorme, em média de 7h a 8h por noite. No entanto,
há exceções. Existem, por exemplo, pessoas que podem dormir apenas cinco horas
e ter a sensação de sono reparador quando acordam. Por outro lado, outros
indivíduos necessitam de 10h de sono para “funcionarem” bem durante o dia.
“Estes casos não são considerados distúrbios e sim variações individuais”,
explica a médica.
Ela
alerta para o fato de que muitos trabalhadores brasileiros têm perdido o sono
em decorrência do estresse provocado pelo ambiente de trabalho e da pressão que
acompanha as responsabilidades do cargo que o profissional exerce. Hoje,
ressalta a neurologista, com a política de metas implantadas por muitas
empresas, horários de trabalho em turnos, além da remuneração muitas vezes
incompatível com a carga de trabalho, certamente os profissionais têm mais
dificuldades para iniciar e manter o sono, gerando para o organismo um estado
de hiper alerta.
Quando
questionada sobre os efeitos que uma noite de sono perdida provoca ao
desempenho do profissional, Andrea Bacelar explica que quando a pessoa dorme
menos do que o organismo necessita ou adormece fora do horário do seu relógio
biológico, podem surgir problemas. Em curto prazo, por exemplo, ocorre o
aumento da chance de acidentes no trabalho ou na rua devido ao comprometimento
do grau de alerta e também pela queda da rapidez do raciocínio. Em médio prazo,
a perda do sono pode confundir o sistema endógeno (interno) a respeito da hora
ideal para dormir. O que acontece ao ser humano são momentos em que se poderia
descansar, mas que o organismo não respeita, pois não está sincronizado.
Os
acidentes de trabalho – As pessoas sonolentas são mais suscetíveis a acidentes
de trabalho, porque chega um momento em que haverá falhas nos circuitos
cerebrais e as estruturas do cérebro forçarão a pessoa a cochilar com a
finalidade de preservar as áreas consideradas nobres. Dessa forma, não adianta
o indivíduo bancar o forte e se sobrecarregar com tarefas em vigília.
Há dados que mostram isso, com riscos graves e irreversíveis que colocam
vidas em perigo e isso é relatado em casos históricos como o acidente nuclear
de Chernobil, o petroleiro Exxon Valdez e o ônibus espacial Challenger.
A
neurologista destaca que algumas medidas podem ajudar as pessoas a vencerem o
sono no ambiente de trabalho como, por exemplo, o tradicional cafezinho ou
mesmo lavar o rosto com água bem fria. No entanto, isso não pode fazer parte da
rotina do profissional. “Se isso ocorre com freqüência, está na hora da pessoa
mudar seus hábitos ou procurar um especialista em medicina do sono. Substâncias
que contêm cafeína inibem um hormônio chamado adenosina e durante o dia, ele
vai se acumulando para que em um certo momento gere, no indivíduo, a vontade de
dormir. Quando lanço mão desse artifício, dificulto o início do sono”,
complementa Andrea Bacelar.
Ações
preventivas – Os programas informativos podem conscientizar as pessoas sobre as
necessidades de mudanças de hábitos que ajudam a dormir melhor e esse trabalho
surge através dos programas voltados para a qualidade de vida dos funcionários.
Dentre as dicas dadas pela neurologista, para que as empresas ajudem os funcionários
sonolentos, ela cita o estímulo a um ambiente de trabalho menos tenso e com
competitividade exagerada, salas de descanso após as refeições e uma atenção
especial voltada para as horas trabalhadas.
Ela
menciona ainda que grandes empresas já contratam médicos especialistas em sono
para realizarem trabalhos de consultoria. Através desse tipo de investimento,
destaca Bacelar, viu-se que a economia feita graças a esses profissionais é tão
expressiva que os tornam pontos-chaves no manejo dos horários dos funcionários.
Por fim, a médica lembra que de 20% a 50% dos adultos sofrem de algum tipo de
insônia e que as pessoas com esse distúrbio sabem como isso interfere na vida
delas. “Antes de tudo, deve-se procurar o auxílio médico e não ficar usando
receitas da vovó e se automedicando com tranqüilizantes, pois isso, no futuro,
trará conseqüências mais graves que a insônia em si”, conclui Andrea Bacelar.
Fonte: DIÁRIO DE UM PM COMBATENTE
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