O olhar da policial militar Roseana do Carmo Gomes Braga, 32
anos, carrega uma dura história de vida que se converteu em felicidade graças a
sua capacidade de superação. Aos 12 anos ela viu sua família ser despejada de
casa, às vésperas do Natal. Mas preferiu usar a experiência ruim como mola
propulsora para seus sonhos.
O despejo aconteceu em 1992, durante uma operação de
reintegração de posse de uma área em Itacibá, em Cariacica. No local viviam 34
famílias em barracos de madeira. Um deles abrigava a mãe e três irmãos de
Roseana. “Eu era nova, mas já entendia a gravidade do nosso problema: não
tínhamos para onde ir”, relembra, emocionada.
A família já tinha vivido uma situação semelhante. Antes de
se abrigarem em Itacibá, tinha sido enganados por uma pessoa que se fez passar
por amigo e lhes vendeu um lote irregular. “Era a segunda vez que estávamos
sendo despejados”.
Quando a família começou a ser despejada, todos os seus
pertences foram jogados no chão. O desespero tomou conta da menina. Naquele
momento o que a confortou foi o gesto de um policial militar que atuava na
operação. Ele impediu que os objetos fossem destruídos, em respeito ao
sofrimento da menina.
Inspiração
“Foi
a atitude dele que marcou a minha vida, me ajudou a superar um momento tão
difícil e, anos mais tarde, me inspirou”, relata Roseana. Desde os seis anos
ela sonhava em ser militar e o carinho recebido daquele policial só fortaleceu
sua decisão. “Mesmo sem saber, naquele dia decidi seguir a carreira militar,
para servir e ajudar com a mesma ternura que ele dedicou a mim”.
A
tragédia vivida pela família foi registrada em A GAZETA. Foi por intermédio
dessa reportagem que um parente distante de Roseana soube do ocorrido e foi até
Itacibá, onde a família estava abrigada em um galpão disponibilizado pela
Prefeitura de Cariacica, para buscá-los.
De
lá todos foram levados para Baixo Guandu, Noroeste do Estado, onde conseguiram
se restabelecer. Com eles foram as tábuas do barraco de madeira, que foi
reconstruído. “Até hoje ele ainda está de pé. É uma lembrança de que é possível
superar as dificuldades”, pontua Roseana.
Sonho é reencontrar policial que a ajudou
O
gesto de atenção e carinho que mudou a vida da jovem Roseana do Carmo, há quase
20 anos, partiu de um homem que ela sequer sabe o nome. “Gostaria de
encontrá-lo e de agradecer”, conta a garota que hoje se tornou sua colega de
corporação.
Mas ela
mantém as fotografias e uma xerox da matéria em sua casa, no bairro de
Brisamar. “Para lembrar de minhas origens”, pontua, com orgulho. E se emociona
ao ver as imagens, na tela do computador, do momento do despejo, lembrando do
desespero vivido.
Na
foto, em meio à destruição, chama a atenção a presença de um cachorrinho. Era o
seu animal de estimação, que estava sempre a seu lado. “O nome dele era ‘Sua
Mãe’”, revela, em meio a risadas.
O bom humor e a firmeza frente às dificuldades é traço
herdado da matriarca Maria Cornélia do Carmo, hoje com 53 anos. Segundo
Roseana, ela sempre deu um jeito de impedir que todos o sofrimentos pelos quais
a família passou afetassem as crianças.
“Ela sempre se esforçou para que tivéssemos um futuro. Seus olhos sempre pareciam dizer: ‘Tudo vai ficar bem’”, conta Roseana.
“Subir sem esquecer a sua história”
Sonho
de Roseana do Carmo, 32, de ser policial militar começou a se concretizar em
2002, quando foi aprovada no concurso para a instituição. Três anos depois, já
formada, começou a atuar na profissão. Hoje ela trabalha no Centro Integrado de
Operações e Defesa Social (Ciodes). “Lá tenho a oportunidade de ajudar outras
pessoas”, pontua.
Sua
meta agora é entrar para a equipe do Batalhão de Missões Especiais (BME), uma
tropa especializada que, segundo ela, reflete o preparo e a excelência que ela
busca agregar a seu perfil profissional. “Já fiz a prova e estou na expectativa
de em breve poder atuar na unidade”.
A jovem, porém, não esquece seu passado. Relata que em sua
carreira já teve a oportunidade de participar de uma operação de despejo e fez
questão de se espelhar no exemplo daquele policial do passado. “Uma simples
atitude pode mudar a vida de uma pessoa”, pondera Roseana.
Ela destaca que a profissão vem ensinando que, mais do que heroísmo, o policial tem que ter espírito de nobreza. Disciplinada, diz que segue uma regra de ouro, inspirada em uma frase que leu em muro de rodoviária: “A subida não deve me empolgar, que a humildade viva em mim, e que eu suba sempre sem esquecer da minha história”.
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