quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Troca de Tiros - Entre a excitação e a racionalidade




Às vezes, policiais recém-formados me perguntam se é legal participar de uma troca de tiros. Percebo certa excitação nessas perguntas, um certo desejo de participar de uma troca de tiros.



Policias novatos têm um imaginário fantasioso acerca de uma troca de tiros; imaginário advindo de filmes como Rambo, Tropa de Elite, ou de jogos eletrônicos, como Counter Strike, Rainbow Six e S.W.A.T. A vida real, porém, em nada se assemelha com filmes e jogos. A vida é algo único. Se você morrer, acabou.

Não tem retorno.

No meu início de carreira, eu também tinha esse imaginário falso sobre a troca de tiros. Sentia uma excitação quando via aquelas trocas de tiros entre policiais e traficantes no Rio de Janeiro. Sentia o desejo de estar lá junto dos policiais. Era quase uma certeza de que eu não morreria.

Mas, com o tempo, com a vivência de momentos de dificuldade, nos quais um minuto parece durar uma hora, em que o reforço parece nunca chegar e você percebe que sua vida está por um fio, foi então que eu percebi que não era Rambo, que meu corpo não era feito de aço e que não há nada mais valioso do que a vida. Repito: Se você morrer, acabou.

Além dessa excitação, eu não sabia das consequências do uso da força. Achava que era só atirar e pronto; nada iria acontecer comigo. Achava que era como nos filmes, em que o herói mata o vilão e vai embora para casa.

Na vida real, existem os APFs, os Procedimentos Administrativos, as Corregedorias, as Comissões de Direitos Humanos… Mesmo agindo dentro das excludentes de ilicitude, você pode ficar preso, privado de sua liberdade, atrás das grades, até que um Juiz expeça um alvará de soltura.

A vida real é bem diferente dos filmes e jogos eletrônicos.

O uso da força, em qualquer nível, quase sempre suscita apurações e, quem vai julgar se a ação foi legítima ou se houve excesso vai ser uma pessoa que não viveu o que você viveu que não esteve lá nos momentos em que você ficou em dificuldade.

O que o julgador vai decidir, sentado em sua cadeira analisando friamente a legislação, é algo imprevisível.

Nos meus primeiros anos nessa profissão, eu buscava o combate. Com o tempo, fui percebendo que nem sempre vale a pena, pelo menos para nós.

Percebi que estava enxugando gelo, mas esta é uma percepção muito pessoal. Nem todos pensam assim, e é bom que não mudem de pensamento, porque reflete em benefícios para a comunidade.

Imagine se todo policial ficasse desmotivado depois de prender um homicida ou um traficante e vê-lo solto na semana seguinte?

Imagine se todos notassem que estavam enxugando gelo? Pois é, que bom que nem todos pensam assim.

Finalizo manifestando minhas condolências à família do Soldado Anderson Torres, mártir da luta contra o tráfico de drogas, e à família ROTAM, composta de homens de fibra e de coragem.

 

Diário de PM/BM

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