sábado, 15 de setembro de 2012

Os policiais estão insatisfeitos?




Hoje estamos insatisfeitos com o quê? Insatisfeitos com a sociedade, com o governo, com a instituição e com as leis.

 
O que leva os policiais a insatisfação? Será que abraçaram uma carreira para a qual não tinham vocação? Será que até mesmo os vocacionados estão insatisfeitos? São perguntas que eu me faço e sobre as quais vou falar aqui.

 

No meu entender, nem todos que estão na Polícia escolheram a carreira por vocação. Talvez sejam até a maioria os não-vocacionados. Então a maioria escolheu a profissão para fazer dela um trampolim? Sim, é o que eu acho; mas muitos acabam permanecendo na Polícia pela estabilidade, ou por que se acomodam. Mas não há nada de errado em fazer da Polícia um trampolim. Ser policial não é um sacerdócio, é um emprego. Se o trabalhador cumprir suas obrigações com eficiência, que mal há nisso? Nenhum.

 

E os vocacionados? Será que também não estão insatisfeitos? Muitos têm o sonho de entrar na Polícia, mas, depois que lá estão, percebem que a realidade é diferente das ilusões que criaram. A realidade é bem diferente dos filmes policiais. Na realidade, o policial morre, é punido e é criticado, não tem o trabalho reconhecido.

Na realidade, a sociedade não tem o policial como um herói, mas sim como um algoz, alguém que lhe incomoda, que lhe revista, que lhe peder documentos, que multa, que lhe prende...

 

Também percebo uma insatisfação com o governo. Os policiais não encontram explicação para tamanha diferença salarial entre as polícias dos estados.

No Rio de Janeiro, um soldado ganha menos de R$ 1.000,00, em Goiás, mais de R$ 2.000,00 e, no Distrito Federal, mais de R$ 4.000,00 (não podemos esquecer claro, o custo de vida em Brasília). Como entender tamanha desproporcionalidade? Segundo a Constituição Federal, o valor do salário deve ser correspondente à complexidade do trabalho. Se a complexidade do trabalho é igual em todos os Estados, porque a absurda diferença salarial?

 

Pelos comentários que recebo, noto uma grande revolta interna nas instituições.Fala-se muito em segregação entre oficiais e praças. Isso acontece de verdade? Será que ainda não estamos no Século XXI? Será que vai ser preciso surgir um Martin Luther King policial militar para pregar o fim da segregação e discursar sobre o sonho de uma instituição em que todos possam sentar – se junto à mesa?

 

Percebo que os policiais combatentes estão cansados de prender cidadãos infratores e de vê – lo solto no mesmo dia, ou poucos dias depois, fato que gera uma sensação de inutilidade, o famoso “estar enxugando o Gelo”. As leis não estariam lenientes, brandas demais com os que insistem em violar a lei e a ordem pública?

 

Mesmo os policiais que trabalham com afinco, que gostam do que fazem, podem ficar insatisfeitos. Quando falo sobre isso, sempre me vem à mente as palavras do ex-Capitão do BOPE Rodrigo Pimentel, que, no documentário “Notícias de Uma Guerra Particular”, falou: Você aperta este morro aqui, eles espirra pro do lado.Você aperta o do lado, eles espirra pro do outro. Então, é uma guerra sem fim! Por mais que toda noite você vá lá... Durante duas semanas o BOPE matava um traficante ali (morro); apreendia uma pistola, matava um traficante, apreendia um fuzil, matava um traficante... Resolvia alguma coisa? Não resolvia nada... Não resolvia NA-DA! Tem dezenas de jovens lá que não estão no movimento e que estão esperando a vez de entrar no movimento(...)

 

Mas é claro que não vai adiantar nada. Se a Segurança Pública for considerada exclusivamente um caso de polícia, não vai adiantar nada mesmo.

 

Se a insatisfação aumentar e criar-se um clima generalizado de desmotivação entre os policiais, vai ser muito difícil melhorar a Segurança Pública deste País. Muita coisa precisa ser repensada...

Diário de PM/BM

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