Uma das
passagens emblemáticas do filme Tropa de Elite, clássico do cinema nacional que
lançou as questões da segurança pública brasileira para discussão pelo público
amplo, é a chegada dos aspirantes recém-formados Matias e Neto nas suas
unidades, com todas as precariedades, vícios e desmandos presentes na rotina
dos batalhões “convencionais”.
A caricatura
feita pelo filme não é a toa: de fato, ao sair das academias de polícia
militar, os aspirantes sofrem o que podemos chamar de “choque de realidade”,
uma espécie de anulação das doutrinas, conhecimentos e teorias adquiridas
durante os anos na escola.
Uma das
figuras centrais do novo contexto é o policial antigo, com certa experiência na
atividade policial, certamente mais vivido profissionalmente que o aspirante,
mesmo lhe sendo subordinado hierarquicamente. O “praça antigo” é aquele que
conhece os becos e vielas, sabe quem são os responsáveis pelas desordens e os
aliados em potencial (informantes, colaboradores), além de entenderem toda a
dinâmica política que influencia a prática do policiamento na localidade em que
atuam.
Diante do
perfil de competências e habilidades do “antigão”, impõe-se uma espécie de
duelo entre ele e o aspirante recém-chegado, também com habilidades e
competências próprias, absorvidas na academia.
De um lado,
a vaidade daquele que possui anos de atuação cotidiana, de outro, a empáfia do
conhecimento técnico aliado à superioridade hierárquica, uma combinação que
precisa ser gerenciada pelas partes, ou as incompreensões podem gerar conflitos
constrangedores e até trágicos.
Primeiramente,
é preciso reconhecer que a experiência policial das ruas não exclui os
conhecimentos técnicos e doutrinários – ao contrário, trata-se de um casamento
necessário para que haja excelência no serviço policial.
Um policial
que conhece os locais vulneráveis, e não sabe se comportar tecnicamente, corre
risco semelhante daquele que, embora tome as precauções técnicas necessárias,
não sabe se situar na área em que atua.
Fundir essas
competências é fundamental, apesar dos desafios, que podem ser reduzidos a uma
palavra: humildade.
Abrir mão da
condição de senhor inquestionável da prática policial é o primeiro passo para
aprender com os demais, seja o policial experiente (que geralmente possui
defasagem teórica), seja o policial doutrinado recém-formado (que geralmente
teve pouco contato com a dinâmica das ruas).
Reconhecer
no outro alguém que é simultaneamente professor e aluno é necessário, deixando
de lado quaisquer vaidades e sentimento de autosuficiência. Esta é uma questão
de sobrevivência (pessoal e institucional).
Autor: Danillo Ferreira
Diário de PM/BM
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