sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Windson, para os amigos. Hudson, para os pilas




No maior ponto de tráfico de drogas da cidade, todos estavam sob nosso jugo, todos com as mãos na cabeça, encostados na parede, quietos. Estávamos em inferioridade numérica, mas o apoio já vinha, e vinha voando baixo. Se não me engano, eu estava no CFS, fazendo estágio no Tático Móvel do então Cabo Miro, hoje, merecidamente, Sargento Miro, profissional velho de guerra, mas pronto para as mais intrépidas batalhas.

 

Enquanto revistávamos aquele monte de viciados e alguns traficantes, chegou a barca branca de listras vermelhas e azuis do Cabo Windson. A presença dele já provocou inquietação nos abordados. Widson, como era conhecido na caserna; Hudson, como era conhecido pelos vagabundos, era uma lenda na cidade. Ele já havia derrubado a cachanga de todos os criminosos residentes naquele município metropolitano. Era respeitado e temido.

 

- Nós estamos de boa, Hudson. - era essa frase a que mais se ouvia, a mais proferida pelos associados com o tráfico.

 

Não me lembro, mas devemos ter saído daquela boca-de-fumo com alguns viciados no xilindró da viatura.

 

Bom, mas não é sobre essa operação que quero falar; contei essa história apenas para narrar como conheci o Windson. Minha intenção é falar sobre os bons profissionais, a exemplo do Windson, que se dedicam dia e noite à Military Police, e que nem sempre tem a devida recompensa. Mas nem sei se eles querem ser recompensados. O Windson mesmo um dia, questionado sobre o porquê de ser tão operacional apesar de certas injustiças, respondeu: “Eu gosto de ver vagabundo atrás das grades, gosto de dar flagrante nesses pilantras.”

A recompensa dele era essa. Para os idealistas, fácil de entender; para os racionais, difícil. Sim, difícil, porque há alguns dias vi um militar se orgulhando de ter ganhado duas medalhas de mérito. Fiquei pensando de qual forma ele ganhou as medalhas. Talvez fez por merecer, não sei, ele não me explicou.

Também nem sei se o Windson já ganhou alguma medalha, só sei que ele merecia, pois sei que ele já trocou tiro com vagabundo, já se arriscou muitas vezes, pondo em risco a própria vida para o cumprimento da missão. Se aquele militar ganhou duas medalhas, o Windson merecia ter ganhado dez vezes mais.

 

No livro o “As setes virtudes do líder amoroso”, o padre Joãozinho diz que “o empreendedor é aquele que enxerga o invisível”, e que “o segredo do negócio é saber algo que ninguém mais sabe”. Windson é um desses empreendedores policiais, um daqueles que enxerga o que poucos veem. O segredo ele me ensinou e abriu-me a mente.

O segredo da polícia é a informação, enxergar o invisível. Windson detém muito mais informações sobre o crime e sobre os criminosos da cidade do que a S2. É a S2 que busca informação com ele, e não o contrário.

 

Foi o Windson que tentou me ensinar a grampear os pilas por atacado, mas eu não aprendi, não tenho o tirocínio tão apurado quanto o dele. Ele parece farejar criminosos, armas e drogas.

Ele desembarca da blazer e volta com um traficante grampeado e meio quilo de maconha apreendido. É impressionante, é uma lenda, assim como certos militares, ainda vivos, já viraram lenda na Unidade. Leles, Ermon, Francis, Aldair, Felix, Oprissus, etc. Oportunamente falo sobre eles.

 

Por: José Ricardo

 

 

Nota: Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, fatos e lugares são frutos da imaginação do autor e usados de modo fictício. Qualquer semelhança com fatos reais ou qualquer pessoa, viva ou morta, é mera coincidência.

 

"É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” - Inciso IX do artigo 5º da Constituição Federal.

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