No
maior ponto de tráfico de drogas da cidade, todos estavam sob nosso jugo, todos
com as mãos na cabeça, encostados na parede, quietos. Estávamos em
inferioridade numérica, mas o apoio já vinha, e vinha voando baixo. Se não me
engano, eu estava no CFS, fazendo estágio no Tático Móvel do então Cabo Miro,
hoje, merecidamente, Sargento Miro, profissional velho de guerra, mas pronto
para as mais intrépidas batalhas.
Enquanto
revistávamos aquele monte de viciados e alguns traficantes, chegou a barca
branca de listras vermelhas e azuis do Cabo Windson. A presença dele já
provocou inquietação nos abordados. Widson, como era conhecido na caserna;
Hudson, como era conhecido pelos vagabundos, era uma lenda na cidade. Ele já
havia derrubado a cachanga de todos os criminosos residentes naquele município
metropolitano. Era respeitado e temido.
-
Nós estamos de boa, Hudson. - era essa frase a que mais se ouvia, a mais
proferida pelos associados com o tráfico.
Não
me lembro, mas devemos ter saído daquela boca-de-fumo com alguns viciados no
xilindró da viatura.
Bom,
mas não é sobre essa operação que quero falar; contei essa história apenas para
narrar como conheci o Windson. Minha intenção é falar sobre os bons
profissionais, a exemplo do Windson, que se dedicam dia e noite à Military
Police, e que nem sempre tem a devida recompensa. Mas nem sei se eles querem
ser recompensados. O Windson mesmo um dia, questionado sobre o porquê de ser
tão operacional apesar de certas injustiças, respondeu: “Eu gosto de ver
vagabundo atrás das grades, gosto de dar flagrante nesses pilantras.”
A
recompensa dele era essa. Para os idealistas, fácil de entender; para os
racionais, difícil. Sim, difícil, porque há alguns dias vi um militar se
orgulhando de ter ganhado duas medalhas de mérito. Fiquei pensando de qual
forma ele ganhou as medalhas. Talvez fez por merecer, não sei, ele não me
explicou.
Também
nem sei se o Windson já ganhou alguma medalha, só sei que ele merecia, pois sei
que ele já trocou tiro com vagabundo, já se arriscou muitas vezes, pondo em
risco a própria vida para o cumprimento da missão. Se aquele militar ganhou
duas medalhas, o Windson merecia ter ganhado dez vezes mais.
No
livro o “As setes virtudes do líder amoroso”, o padre Joãozinho diz que “o
empreendedor é aquele que enxerga o invisível”, e que “o segredo do
negócio é saber algo que ninguém mais sabe”. Windson é um desses
empreendedores policiais, um daqueles que enxerga o que poucos veem. O segredo
ele me ensinou e abriu-me a mente.
O
segredo da polícia é a informação, enxergar o invisível. Windson detém muito
mais informações sobre o crime e sobre os criminosos da cidade do que a S2. É a
S2 que busca informação com ele, e não o contrário.
Foi
o Windson que tentou me ensinar a grampear os pilas por atacado, mas eu não
aprendi, não tenho o tirocínio tão apurado quanto o dele. Ele parece farejar
criminosos, armas e drogas.
Ele
desembarca da blazer e volta com um traficante grampeado e meio quilo de
maconha apreendido. É impressionante, é uma lenda, assim como certos militares,
ainda vivos, já viraram lenda na Unidade. Leles, Ermon, Francis, Aldair,
Felix, Oprissus, etc. Oportunamente falo sobre eles.
Por: José Ricardo
Nota: Esta é uma obra de ficção. Nomes,
personagens, fatos e lugares são frutos da imaginação do autor e usados de modo
fictício. Qualquer semelhança com fatos reais ou qualquer pessoa, viva ou
morta, é mera coincidência.
"É
livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença” - Inciso IX do
artigo 5º da Constituição Federal.
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