Todo atirador ou
policial acerta quando afirma que cada tiro deve ser rápido e preciso. Na
verdade, toda simulação “em seco” ou treinamento prático com armas de fogo tem
relação com a precisão e a rapidez dos disparos. No IPSC ou Tiro Prático, se o
atirador for rápido demais a ponto de errar alguns tiros, ele perde. Se ele for
preciso e muito lento, ele perde. Então, o fundamental é o equilíbrio entre a
precisão e a velocidade da ação. É como diz um colega: “Primeiro você deve ser
preciso, já que a velocidade é adquirida com o treino!”
Mas e quando o policial
não está mais num estande de tiro, e sim numa padaria, num posto de combustível
ou numa casa lotérica? E quando o policial não está usando o coldre ostensivo?
E quando ele está sozinho confrontando dois suspeitos? Pensando sobre isso,
acredito que o princípio do equilíbrio continua válido. E se a velocidade vem
com a prática, então é preciso treinar. Contudo, existem modos de portar uma
arma que são mais acessíveis e rápidos que outros, assim como existem
treinamentos que podem ser realizados todos os dias.
Policiais se orgulham de
sua capacidade de estabelecer perfis e determinar se alguém é suspeito e se ele
está armado. Às vezes, a pessoa observada é um suspeito de fato, e por vezes, é
um policial de folga. No entanto, quantas vezes eles pensam na possibilidade de
serem identificados como policiais com base no modo como se vestem, se
comportam e portam suas armas quando estão de "folga"?
Quando se fala em porte
de arma fora do serviço, o que, como e onde o policial porta sua arma é uma
questão de estilo de vida, ou seja, cada um faz ao seu modo. É quando você quer
estar armado, mas sem parecer que tem uma arma. Na verdade, a maioria dos
policiais deseja passar despercebida quando está à paisana. Infelizmente, isso
não foi possível para o Policial Federal C.A.C., que foi sequestrado por dois
homens armados e depois assassinado após ser reconhecido como policial em
05/04/1987.
Para evitar que se
encontrem numa situação vulnerável semelhante ao do Policial Federal C.A.C.,
alguns policiais carregam uma segunda carteira desprovida de qualquer coisa que
possa identificá-los como policiais. Outros carregam suas identidades
funcionais em áreas menos acessíveis do corpo. Mas esconder uma arma é bem
diferente! E sacar uma arma escondida (enquanto o agressor está perto) é outra
coisa!
Tempos atrás eu escrevi
sobre algumas medidas que os policiais podem adotar quando estão de folga.
Também disse que não existe técnica perfeita ou que possa ser utilizada em
todas as situações e que o importante é ter opções. No caso do porte de arma
dissimulada, estas ideias não mudam.
O ideal no porte
ostensivo duma arma deve ser a segurança, o conforto, a facilidade de acesso e
a rapidez do saque. Entretanto, quando você quer que sua arma fique
imperceptível ao público, você acaba sacrificando alguma coisa. Quer dizer,
justamente quando o policial está mais vulnerável ao ataque dos criminosos, ele
tem o acesso e a rapidez no saque prejudicados.
Parte do problema é uma
questão de condicionamento ruim: inexistem treinamentos intensos que preparem o
policial para reagir, sob condições de intenso estresse, sacando uma arma que
está escondida. O que se vê, normalmente, são policiais alinhados sacando armas
de coldres ostensivos. Treinos com saque de arma dissimulada são importantes
porque o estresse prejudica (e muito) a precisão, e a arma escondida dificulta
o acesso e diminui a velocidade da reação. Além disso, poucos policiais
realizam treinos “em seco” com suas armas sob a camisa. E o pior: a maioria é
resistente a experimentar novos procedimentos. Infelizmente, tais hábitos podem
ser fatais para o dono da arma!
Então, se o porte
dissimulado é uma questão estilo; se é importante ter opções; se existem modos
mais eficazes para portar uma arma; você precisa considerar se seu
comportamento atual oferece segurança para as situações mais perigosas. Você
precisa avaliar o uso de coldres de qualidade para porte dissimulado que
proporcionem a colocação da arma na frente, na lateral e atrás do corpo. Eu
disse COLDRES DE QUALIDADE! São eles que protegem sua arma e deixam o
porte confortável, evitando que você use as pochetes de "saque
rápido" ou deixe sua arma dentro do carro. Certamente, você também precisará
de mais de um tipo de coldre para portar sua arma com conforto nas atividades
diárias. Você deve treinar em seco (e muito) e com tiro real nestas três
disposições para saber qual delas é a melhor, mais acessível e mais rápida para
uma determinada circunstância. E você necessita treinar com roupas diferentes
também.
Apesar de possuir alguns
coldres e já ter portado minha arma nas três posições, frequentemente uso o
posicionamento lateral para o uso velado, pois é o mais natural e eficaz, tanto
pela acessibilidade quanto pela rapidez no saque, além de ser menos incômodo. É
uma posição excelente para quando você está vestindo um paletó ou uma blusa de
frio. Já o porte frontal é bom, porém incômodo na hora de se sentar, o que leva
o policial a “ajeitar” a arma constantemente na cintura (ajeitar alguma coisa
sob a camisa é um indicativo de alguém armado). Contrariando minha preferência
pelo porte lateral e frontal, eu usava um coldre Small of Back quando
minha hora da verdade chegou. Obviamente, a rapidez no saque de uma arma
dissimulada em determinada posição tem relação direta com a quantidade de
prática que o policial possui com aquele coldre e naquela posição. Portanto, eu
sobrevivi porque treinava com aquele coldre.
O que poucos sabem ou
querem entender é que para praticar, você não precisa necessariamente atirar de
verdade, já que o treino real nem sempre é viável pela carência de munição,
estandes disponíveis, tempo, etc. Daí a importância do treinamento “em seco”.
O treino em seco é a
oportunidade para você perceber o que está fazendo de certo ou de errado. Como
o subconsciente não sabe a diferença entre uma simulação e algo real, a
visualização mental e a repetição são colocadas em prática no treino em seco de
maneira que a mente e o corpo interajam para melhorar as habilidades
psicomotoras que estão em desenvolvimento.
Entretanto, a aquisição
e a conservação destas habilidades requerem não só muita repetição, mas uma
frequente manutenção do que foi aprendido, já que tais habilidades são
perecíveis.
Para evitar exaustivos
treinos em seco, você deve realizar breves sessões com muita concentração e com
a arma em total segurança. Treinos extensos irão sobrecarregar sua capacidade e
provavelmente terão pouco resultado positivo. Então, o treinamento deve ser frequente
ao invés de muito longo.
Seja como for e onde
quer que você porte sua arma quando está de folga, por favor, pratique o saque
de arma dissimulada e treine vestindo as roupas que você usa no cotidiano. Há
uma grande diferença entre o saque e o disparo de sua arma quando você está à
paisana e quando você está uniformizado na linha de tiro de um estande.
Portanto, não espere
para descobrir essa diferença no pior momento da sua vida!
Por: Humberto Wendling é Agente de Polícia Federal e Professor de Armamento
e Tiro lotado na Delegacia de Polícia Federal em Uberlândia/MG
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