As armas de fogo são objetos fascinantes. No mundo inteiro, os
fabricantes de armas mantêm laboratórios de pesquisa nos quais engenheiros
habilidosos aplicam conhecimentos de química, física, matemática, biologia,
metalurgia, dentre outras áreas da ciência humana para desenvolver e fabricar
seus produtos.
O resultado disso tudo, geralmente, é tão bom que não existe no mundo um
exército ou organização policial que não use armas de fogo na defesa do seu
território e na proteção da sociedade. Imagine você que até criminosos e
terroristas fazem uso delas também!
Por isso, os fabricantes de armas sabem que quando seus clientes
apertarem o gatilho, pessoas serão feridas ou mortas. E como não produzem armas
para criminosos, essas empresas esperam que você sobreviva ao confronto de vida
ou morte que venha a encontrar ao longo da carreira. Assim, essas fábricas
projetam, produzem, testam, embalam e entregam a sua arma com certificado de
garantia, manual e carregadores avulsos numa maleta acolchoada. E surpresa, as
melhores marcas também entregam uma escovinha para limpeza do cano.
Mas, e daí? Bem, e daí que você recebe a arma, municia, põe na cintura e
esquece! Quer dizer, sua arma fica no coldre por semanas a fio. “E daí?” E daí
que com o passar dos dias sua arma vai sendo contaminada pela poeira e pelas
fibras da sua roupa.
Dessa maneira, e com o tempo, essa sujeira pode impedir o funcionamento
do armamento, porque ao entrarem na arma, os fiapos de roupa se acumulam na
câmara do cano, e o ferrolho não consegue inserir correta ou completamente o
cartucho nessa câmara, o que impede o disparo. Este tipo de incidente é chamado
de “alimentação incompleta”, e apesar dessa pane ter um nome, infelizmente não
tem solução imediata – a não ser que você limpe a arma.
Pode até ser que você consiga realizar alguns disparos, mas eu garanto
que cedo ou tarde sua arma irá falhar, quer você acredite ou não. Então, reze
para que não seja enquanto você tenta realizar o primeiro tiro.
Para ilustrar o problema, conto o caso de um Policial que realizou 274
tiros em 6 horas de treinamento. Ao longo do treino, esse Policial foi
surpreendido sete vezes pelo mesmo tipo de pane, ou seja, alimentação
incompleta. Intrigado com a ocorrência que acometeu um dos melhores atiradores
da delegacia, pedi que ele desmontasse a pistola.
Ao verificar o cano, percebi um grande acúmulo de sujeira e fibras
têxteis. Incrivelmente, esse Policial havia treinado com a mesma arma 15 dias
antes e sem qualquer problema. Portanto, este foi o tempo necessário para um
instrumento sofisticado de autodefesa – desenvolvido para salvar a vida do
Policial – se transformar numa peça inconfiável. Mas isso não foi por falha da
arma, foi por culpa do Policial!
Alimentação incompleta.
Então, vale a pena relembrar que a Lei de Murphy é uma constante no
trabalho policial. E com tantas variáveis que podem dar errado numa troca de
tiros, você não pode criar mais uma oportunidade para o fracasso, se permitindo
sair de casa sem ter feito algo tão simples e rápido como limpar sua arma.
Você não precisa se sentir obrigado a limpar seu armamento todos os dias
a ponto dessa tarefa se tornar um fardo, mas você deve se responsabilizar pela
manutenção da arma que usa pelo menos quinzenalmente, dependendo do clima da
cidade, da forma como porta sua arma e do uso que tenha feito dela.
Limpar sua arma tem outra vantagem: permite que você se mantenha
atualizado com as peças e o funcionamento do único instrumento de trabalho que
torna sua profissão distinta de todas as outras. E é sempre bom saber como
essas coisas funcionam!
Se sua arma falhar devido à sujeira durante um treinamento, vá lá! Basta
limpá-la e voltar ao treino. Mas, se isso ocorrer no início ou no meio de um
confronto real, você pode dizer adeus!
Por: Humberto
Wendling é Agente de Polícia Federal e Instrutor de Armamento e Tiro lotado na
Delegacia de Polícia Federal.
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