Quem determina o destino? Talvez esta seja a mais antiga indagação de
todo ser humano!
Muitas pessoas acreditam que o destino é imutável porque é controlado
por uma força maior. Uns chamam esta força de Energia, alguns chamam de
Natureza, e outros avocam Deus. “Ele é um predestinado!”, “Ninguém morre antes
da hora!” e “Morreu porque sua hora chegou!” são expressões que exemplificam
esta crença.
Outros indivíduos creem que o homem vive como pode até que seu destino
se mostre e o guie nos momentos decisivos da sua existência. E eles dizem: “Meu
anjo da guarda é forte!”
E alguns ainda entendem que o destino nada mais é do que o resultado das
escolhas e do comportamento de cada pessoa, não obstante a presença divina.
Estes afirmam: “Ele fez por merecer o melhor!” e “Morreu porque quis!”
Apesar da diversidade de crenças e das frases feitas, só uma coisa é
realmente certa: ninguém conhece verdadeiramente o próprio destino; ninguém
sabe previamente o resultado final de uma escolha, seja ela boa ou ruim.
Mas imagine que todas as vítimas do crime e da violência pudessem, horas
antes de serem atacadas, visualizar o futuro por um breve momento. Quantas
pessoas se salvariam? Agora pense quantos policiais seriam salvos se eles pudessem
conhecer o futuro. Se isto fosse possível, com certeza cada um de nós teria um,
dois ou, quem sabe, dez amigos policiais ao nosso lado novamente.
Assim, o detetive da Polícia Civil de Minas Gerais A.B.A.S (32 anos) não
perseguiria o suspeito que o emboscaria numa rua escura e o mataria com um tiro
na cabeça em 23 de janeiro de 2003 na cidade de Belo Horizonte/MG.
Se soubessem que um dos presos, levado para a 25ª DP do Engenho Novo,
conseguiria se livrar da algema descartável, desarmar, atirar e matar um dos
colegas, os policiais do 3º BPMRJ teriam contido o criminoso com uma algema
convencional e mantido a segurança do armamento durante todo o tempo em que
preenchessem o boletim de ocorrência em 07 de agosto de 2008.
Em 28 de maio de 2008, o policial civil do Estado de São Paulo C.P.S.
(57 anos) não teria ido sozinho ao Morro do Kibom para entregar uma intimação
se soubesse que a pessoa que assinaria o documento aguardaria que ele virasse
de costas para esfaqueá-lo, tomar-lhe a arma, abrir fogo, e depois arrastar seu
corpo por cerca de 100 metros até a viatura na tentativa de incendiá-la junto
com seus restos mortais.
Os instrutores da Academia de Polícia do Barro Branco não realizariam a
instrução de tiro do dia 20 de janeiro de 2004 se soubessem que um disparo
acidental ceifaria a vida do soldado PMSP 2ª classe F.G. (23 anos).
Os policiais federais F.L.F (42 anos) e J.G.R não permaneceriam horas à
fio dentro de uma viatura descaracteriza durante uma campana se soubessem que
quatro criminosos armariam uma emboscada que mataria F.L.F com um tiro no
tórax, em 13 de dezembro de 1989, na cidade de Campo Grande/MS.
E com certeza, na manhã do dia 17 de janeiro de 2010, o soldado D.A.W. e
o 3º sargento W.A.C. (41 anos), ambos da Polícia Militar do Rio de Janeiro, não
estacionariam a viatura na região central da cidade e ficariam dentro dela se
tivessem a convicção de que em 30 minutos, três ou quatro criminosos se
aproximariam num carro preto, sairiam do veículo e disparariam
ininterruptamente contra os dois, provocando ferimentos no primeiro e a morte
imediata do segundo.
Não há dúvida de que o treinamento e o trabalho policial seriam mais
fáceis e seguros se existisse esta tal vidência. Afinal, bastaria treinar
continuamente e à exaustão cada aluno predestinado ao confronto com criminosos
ou alocar estes policiais em outras atividades. Mas isso é pura ficção, e a
realidade é tão dura quanto o chão no qual tombaram estes heróis.
Por isso, você precisa considerar sua crença, seja ela qual for, e se
perguntar se ela encoraja ou não sua capacidade para se defender; se ela impõe
a aceitação incondicional de que tudo na vida é obra de um destino inflexível
ou se o estimula a aceitar total responsabilidade por sua segurança pessoal.
Por que isto é importante? Porque alguém que acredita que seu destino é
controlado por uma força externa tende a relaxar e não ser bem sucedido em uma
situação de sobrevivência se comparado a um indivíduo inclinado a confiar em
sua própria capacidade para decidir e tomar uma atitude. Aquele que se
considera no controle das coisas boas e ruins que experimenta tem mais chance
de superar situações difíceis do que aquele que acredita que as coisas ocorrem
por acaso. Este último se entrega facilmente às adversidades, pois seu destino
não lhe pertence, não importando o que ele faça para estar a salvo.
Logo, cada policial deve assumir total responsabilidade por sua própria
segurança fazendo aquilo que lhe cabe. Ou seja, pelo menos não cometendo os
mesmos erros que têm levado as vidas de milhares de policiais em todo o mundo.
No centro deste tema estão o estado de alerta e o comportamento
preventivo. O comportamento preventivo começa quando você simplesmente acredita
que pode ser o alvo algum dia. O estado de alerta ocorre quando você presta atenção
nas pessoas e nos acontecimentos à sua volta.
Mas sabendo que não é possível permanecer 100% alerta 100% do tempo,
você pode avaliar quais os momentos da sua vida requerem um nível maior de
atenção. Sem dúvida, estar dentro de uma viatura num local perigoso exige um
nível de alerta maior do que se você estivesse num supermercado. Ficar na
viatura é confortável, mas perigoso. Fora dela é ruim, porém mais seguro. Fora
da viatura, você vê o que ocorre na redondeza e pode reagir mais rápido do que
se estivesse confinado dentro do veículo.
Com isto em mente, pode-se dizer que a morte não tem hora ou data
marcada, a menos que você vacile e faça seu próprio agendamento. Deus deseja o
seu bem, contudo certas tarefas são da sua responsabilidade. E ficar vivo é uma
delas!
Por: Humberto
Wendling é Agente de Polícia Federal e professor de armamento e tiro lotado na
Delegacia de Polícia Federal de Uberlândia/MG
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