domingo, 20 de outubro de 2013

O conflito entre gerações nas polícias




Em todo grupamento social existe o confronto do velho com o novo, do futuro com o passado, cada parte defendendo teses e comportamentos ideais para o presente. É assim na família, onde os pais tendem a ser mais conservadores que os filhos, se arriscam menos e limitam as tentativas de rompimento com os paradigmas. Os filhos reclamam, se insurgem, não entendem porque os pais resistem a todo custo à evolução que lhes parece tão óbvia.


Claro, falar em conflito de gerações exige alguma generalização, pois “conservador” e “inovador”, adjetivos geralmente associados ao velho e ao novo, respectivamente, são características observadas em todas as gerações. Entretanto, ninguém discordará que o conservadorismo está mais presente naqueles que têm mais idade, enquanto a vontade de mudança caracteriza os mais recentes. É simples entender porque isto ocorre.

Os mais antigos geralmente possuem mais experiências, o que lhes dá uma vantagem probabilística de estarem certos em seus entendimentos. Um policial que viveu dez vezes algum tipo de ocorrência, provavelmente irá direcionar a atuação na décima primeira vez baseado nas outras situações em que viveu aquilo. Se tudo se mantiver constante, ele acertará.

Os mais modernos tendem a se utilizar do vigor e proatividade de sua juventude para resolver os conflitos – a isso chamarei “inteligência”, apenas para uma facilitação conceitual. O jovem policial irá investir em sua “inteligência” para sanar problemas, a despeito do que os experientes lhe orientem a fazer, pois ele não possui as marcas da vivência que levam à mudança de atitude. Se o problema apresentado for compatível com o nível de sua “inteligência”, ele acertará.

A capacidade de absorção de novas formas de pensar e agir entre os antigos nunca será igual ou superior ao dos modernos. E os modernos nunca terão a mesma experiência e vivência que os antigos. A modernidade sem a antiguidade pode ser desastrosa e trágica. A antiguidade sem a modernidade leva à ociosidade e ao atraso.

Nas polícias, os atrasos e a ociosidade são mais comuns, pois o comando é dos antigos, salvo raras exceções. Às vezes o atraso é tão grande que há pouca diferença entre a letargia vigente e a tragédia que medidas excessivamente vanguardistas poderiam ocasionar.

Neste ambiente, cabe aos antigos efetuar o controle dos modernos, pois é necessária alguma tradição e experiência que sirvam de orientação e limite à inovação, apesar desse papel às vezes ser realizado como um zelo disfarçado à manutenção do poder e ao reacionarismo irracional. Já os modernos, não podem abrir mão de questionar e se insurgir contra distorções e posicionamentos (ou omissões) incoerentes, pois se não o fizerem, provavelmente não haverá quem exercite este papel.

Ou nós, que nos dizemos modernos, refletimos sobre isso, ou viveremos a síndrome que Renato Russo descreve na brilhante letra da canção “Pais e Filhos”:

[...] Você me diz que seus pais não te entendem,
Mas você não entende seus pais.


Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer? [...]


Lembremos que estar um passo à frente ou um passo atrás do destino, de qualquer modo, é não estar nele.

Autor: Danillo Ferreira - Tenente da Polícia Militar da Bahia

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