Em
todo grupamento social existe o confronto do velho com o novo, do futuro com o
passado, cada parte defendendo teses e comportamentos ideais para o presente. É
assim na família, onde os pais tendem a ser mais conservadores que os filhos,
se arriscam menos e limitam as tentativas de rompimento com os paradigmas. Os
filhos reclamam, se insurgem, não entendem porque os pais resistem a todo custo
à evolução que lhes parece tão óbvia.
Claro,
falar em conflito de gerações exige alguma generalização, pois “conservador” e
“inovador”, adjetivos geralmente associados ao velho e ao novo,
respectivamente, são características observadas em todas as gerações.
Entretanto, ninguém discordará que o conservadorismo está mais presente
naqueles que têm mais idade, enquanto a vontade de mudança caracteriza os mais
recentes. É simples entender porque isto ocorre.
Os
mais antigos geralmente possuem mais experiências, o que lhes dá uma vantagem
probabilística de estarem certos em seus entendimentos. Um policial que viveu
dez vezes algum tipo de ocorrência, provavelmente irá direcionar a atuação na
décima primeira vez baseado nas outras situações em que viveu aquilo. Se tudo
se mantiver constante, ele acertará.
Os
mais modernos tendem a se utilizar do vigor e proatividade de sua juventude
para resolver os conflitos – a isso chamarei “inteligência”, apenas para uma
facilitação conceitual. O jovem policial irá investir em sua “inteligência”
para sanar problemas, a despeito do que os experientes lhe orientem a fazer,
pois ele não possui as marcas da vivência que levam à mudança de atitude. Se o
problema apresentado for compatível com o nível de sua “inteligência”, ele
acertará.
A
capacidade de absorção de novas formas de pensar e agir entre os antigos nunca
será igual ou superior ao dos modernos. E os modernos nunca terão a mesma
experiência e vivência que os antigos. A modernidade sem a antiguidade pode ser
desastrosa e trágica. A antiguidade sem a modernidade leva à ociosidade e ao atraso.
Nas
polícias, os atrasos e a ociosidade são mais comuns, pois o comando é dos
antigos, salvo raras exceções. Às vezes o atraso é tão grande que há pouca
diferença entre a letargia vigente e a tragédia que medidas excessivamente
vanguardistas poderiam ocasionar.
Neste
ambiente, cabe aos antigos efetuar o controle dos modernos, pois é necessária
alguma tradição e experiência que sirvam de orientação e limite à inovação,
apesar desse papel às vezes ser realizado como um zelo disfarçado à manutenção
do poder e ao reacionarismo irracional. Já os modernos, não podem abrir mão de
questionar e se insurgir contra distorções e posicionamentos (ou omissões)
incoerentes, pois se não o fizerem, provavelmente não haverá quem exercite este
papel.
Ou
nós, que nos dizemos modernos, refletimos sobre isso, ou viveremos a síndrome
que Renato Russo descreve na brilhante letra da canção “Pais e Filhos”:
[...] Você me diz que seus pais não te entendem,
Mas você não entende seus pais.
Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer? [...]
Lembremos que estar um passo à frente ou um passo atrás do destino, de qualquer modo, é não estar nele.
Autor: Danillo
Ferreira - Tenente da Polícia
Militar da Bahia
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