Destino. Palavra
cruel. Quando pensamos que nossa vida tomou um rumo definido, vem o maldito
destino e nos passa uma rasteira, por vezes tão grande, que não conseguimos
reunir forças para levantar. Pensei que iria ficar longos e eternos anos com
Leila, foi paixão a primeira vista. Não me importava com o fato dela estar
envolvida naquele assassinato na padaria, anos atrás, queria tê-la ao meu
lado. O destino já tinha me esbofeteado antes, quando levou Camila,
agora Leila. Mulher burra, idiota mesmo.
Quando fugimos de
Santo Ângelo, estava realmente disposto a largar tudo, deixar de vez a polícia,
morar em um lugar à beira mar. Mas a vadia tinha que ser loira. No meio do
caminho, naquela noite, o pneu do carro furou. Parei no acostamento para trocar
o pneu. Leila saiu do carro, não ouviu ou fez de conta que não ouviu quando
disse para ficar no acostamento. A anta tinha que ver de perto como se trocava
um pneu.
O caminhão não
deixou muita coisa do seu corpo para que pudessem reconhecer. Foi instantâneo,
sem freadas, sem gritos. Apenas aquele barulho de ossos sendo dilacerados. O
caminhoneiro sequer parou, sequer desviou. Sumiu na noite tão rapidamente
quanto surgiu. O mínimo que pude pensar foi que o filho da puta estava chapado
de tanto rebite. Caralho, não pude dar uma mísera trepada com Leila. Ascendi um
cigarro enquanto o puto do Elvis Costello tentava me torturar no rádio, com
aquela voz dizendo “She, May be the face I can't forget. A trace of pleasure or
regret. May be my treasure or the price I have to pay” Ela,
pode ser o rosto que eu não consigo esquecer O caminho para o prazer ou para o
desgosto. Pode ser meu tesouro ou o preço que eu tenho que pagar. Fodam-se,
a Leila e o Elvis.
Olhei por instante,
de longe, aquela massa disforme sob a luz prateada do luar. Entrei no carro,
desliguei o rádio e dei meia volta rumo à Santo Ângelo. Os planos haviam
mudado. Meu telefone estava lotado de chamadas da Chefia. Não queria atender ninguém.
Apareci no QG três
dias depois. Convenci a todos que havia sofrido um infarto, que estava
hospitalizado e por isso não atendia ao telefone, peguei alguns dias de licença
e fui pescar.
O chefe me chamou em
seu gabinete. O que será que aquele baixinho enfadonho queria comigo?
- Senta aí. Como vai
o coração?
- Tudo certo. Foi
alarme falso. Na verdade, o médico me convenceu que era puro estresse.
- Tenho um trabalho
especial para você. Algo que vai lhe render uma boa aposentadoria.
- Diga lá, chefe.
- Preciso de um
braço direito, um homem de extrema confiança e com qualidades especiais.
- E que qualidades
seriam estas, chefe?
- Suas qualidades.
Aquelas palavras me
balançaram, por breves momentos. Como não havia mais nada além da minha própria
vida para perder, topei fazer o serviço "sujo" para o Chefe de
Polícia, meu chefe. Até o belo dia em que me chamou na sua casa, no meio da
noite, para me passar mais um "serviço". Capturar o braço direito do
maior traficante desde a queda do Fernandinho Beira Mar.
Butch. O balofo
Butch. O inescrupuloso leitão do Butch. Sadam e Butch, dupla perfeita, o chefe
do crime e o chefe da polícia, tomando uísque contrabandeado e fumando charutos
paraguaios cubanos.
Logo que entrei dei
de cara com aquela maleta preta ao lado da poltrona do meu chefe, que logo
anunciou.
- É esse o homem que
vai ter fazer feliz Butch.
- Quer uma bebida
garoto? Sente-se. Aqui está a foto do cretino do Rui. O filho da puta está com
algo que me pertence. Quero que me traga aquela maleta de volta e a cabeça do
Rui. Pode ficar com o corpo. O dinheiro que ele levou não importa tanto. Quero
a maleta, não esqueça. Cinqüenta por cento agora e quando voltar, o resto da
grana que está ali é sua.
Não pensei duas
vezes. Um cavalo encilhado não passa toda hora na sua frente. Descarreguei o
revólver, três tiros para cada um.
Sinatra ainda cantava
My Way quando deixei a casa e os cadáveres para trás.
Por: Roberyk
Diário de PM/BM
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