terça-feira, 4 de junho de 2013

Destino




Destino. Palavra cruel. Quando pensamos que nossa vida tomou um rumo definido, vem o maldito destino e nos passa uma rasteira, por vezes tão grande, que não conseguimos reunir forças para levantar. Pensei que iria ficar longos e eternos anos com Leila, foi paixão a primeira vista. Não me importava com o fato dela estar envolvida naquele assassinato na padaria, anos atrás, queria tê-la ao meu lado.  O destino já tinha me esbofeteado antes, quando levou Camila, agora Leila. Mulher burra, idiota mesmo.
 

Quando fugimos de Santo Ângelo, estava realmente disposto a largar tudo, deixar de vez a polícia, morar em um lugar à beira mar. Mas a vadia tinha que ser loira. No meio do caminho, naquela noite, o pneu do carro furou. Parei no acostamento para trocar o pneu. Leila saiu do carro, não ouviu ou fez de conta que não ouviu quando disse para ficar no acostamento. A anta tinha que ver de perto como se trocava um pneu.

O caminhão não deixou muita coisa do seu corpo para que pudessem reconhecer. Foi instantâneo, sem freadas, sem gritos. Apenas aquele barulho de ossos sendo dilacerados. O caminhoneiro sequer parou, sequer desviou. Sumiu na noite tão rapidamente quanto surgiu. O mínimo que pude pensar foi que o filho da puta estava chapado de tanto rebite. Caralho, não pude dar uma mísera trepada com Leila. Ascendi um cigarro enquanto o puto do Elvis Costello tentava me torturar no rádio, com aquela voz dizendo “She, May be the face I can't forget. A trace of pleasure or regret. May be my treasure or the price I have to pay”   Ela, pode ser o rosto que eu não consigo esquecer O caminho para o prazer ou para o desgosto. Pode ser meu tesouro ou o preço que eu tenho que pagar. Fodam-se, a Leila e o Elvis.

Olhei por instante, de longe, aquela massa disforme sob a luz prateada do luar. Entrei no carro, desliguei o rádio e dei meia volta rumo à Santo Ângelo. Os planos haviam mudado. Meu telefone estava lotado de chamadas da Chefia. Não queria atender ninguém.

Apareci no QG três dias depois. Convenci a todos que havia sofrido um infarto, que estava hospitalizado e por isso não atendia ao telefone, peguei alguns dias de licença e fui pescar.

O chefe me chamou em seu gabinete. O que será que aquele baixinho enfadonho queria comigo?

- Senta aí. Como vai o coração?

- Tudo certo. Foi alarme falso. Na verdade, o médico me convenceu que era puro estresse.

- Tenho um trabalho especial para você. Algo que vai lhe render uma boa aposentadoria.

- Diga lá, chefe.

- Preciso de um braço direito, um homem de extrema confiança e com qualidades especiais.

- E que qualidades seriam estas, chefe?

- Suas qualidades.

Aquelas palavras me balançaram, por breves momentos. Como não havia mais nada além da minha própria vida para perder, topei fazer o serviço "sujo" para o Chefe de Polícia, meu chefe. Até o belo dia em que me chamou na sua casa, no meio da noite, para me passar mais um "serviço". Capturar o braço direito do maior traficante desde a queda do Fernandinho Beira Mar.

Butch. O balofo Butch. O inescrupuloso leitão do Butch. Sadam e Butch, dupla perfeita, o chefe do crime e o chefe da polícia, tomando uísque contrabandeado e fumando charutos paraguaios cubanos.

Logo que entrei dei de cara com aquela maleta preta ao lado da poltrona do meu chefe, que logo anunciou.

- É esse o homem que vai ter fazer feliz Butch.

- Quer uma bebida garoto? Sente-se. Aqui está a foto do cretino do Rui. O filho da puta está com algo que me pertence. Quero que me traga aquela maleta de volta e a cabeça do Rui. Pode ficar com o corpo. O dinheiro que ele levou não importa tanto. Quero a maleta, não esqueça. Cinqüenta por cento agora e quando voltar, o resto da grana que está ali é sua.

Não pensei duas vezes. Um cavalo encilhado não passa toda hora na sua frente. Descarreguei o revólver, três tiros para cada um.

Sinatra ainda cantava My Way quando deixei a casa e os cadáveres para trás.

 

Por: Roberyk

 

 

Diário de PM/BM

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