domingo, 15 de dezembro de 2013

O PM PREGADOR




Bem meus nobres colegas virtuais. Outra notícia que recebi da movimentada PM de Tão Tão Distante obrigou-me a sair de meu marasmo costumeiro e ir ao computador relatá-la aos senhores. O fato, segundo algumas testemunhas, aconteceu há uns sete anos no nosso já conhecido, mal falado e magro batalhão da aldeia pioneira, a primeira aldeia desse glorioso país.

 

Pois bem, vamos ao acontecido. Existia nesse insalubre lugar um policial recém chegado de outro batalhão. Segundo alguns era a trocentéssima vez que ele era transferido por problemas penais, pessoais ou disciplinares. Era um negão alto, forte e caladão, não era desses fortinhos de academia não, era forte de nascença mesmo. Cada mãozada que dava em peba era uma rodopiada seguida por um tombo. Estava respondendo a uns três homicídios. Mas dessa feita era um homem diferente. Era um homem totalmente transformado pela fé. Havia renascido, como ele costumava dizer nas poucas vezes que abria a boca.

 

Como nas viaturas não tinha vaga e no PO ele se recusou a trabalhar, adotaram então o procedimento padrão nesses casos: mandá-lo para as motos. Ficava caladão o serviço inteiro, só falava para tacar um versículo da bíblia nos coleguinhas. Quando algum polícia proferia um impropério ele logo vinha com um: “as más conversações corrompem os bons costumes!”. Se um polícia olhava para a bunda de alguma mulher bonita que passava ele jogava um: “qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela!”. Se passava um carrão e o guarda expressava desejo de adquirir um, mesmo sendo um sonho distante, ele jogava um: “ o cobiçoso levanta contendas; mas o que confia no senhor prosperará.” Se alguém contava uma vantagem, lá vinha um: “seja outro o que te louve, e não a tua boca; o estranho, e não os teus lábios.” Quando alguém saia sem paciência de ouvir suas pregações ele usava o: “o que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração é abominável”.

 

E nessa toada o serviço prosseguia. Ninguém ousava censurá-lo, pois além do restante da guarnição ser composta por novinhos 72 milhão, a fama dele era de ser extremamente nervoso e alterado e aquilo de “homem novo” não convencia muito não. Então num belo dia, na verdade já era noite, uma viatura do setor comercial avisou pelo rádio que um carro se evadira ao avistá-la. Todo mundo foi atrás dela e, finalmente, foi pega na L2 sul pelos MTs. Feita a abordagem, constataram que o cidadão fugira por que estava com um cigarro de maconha e ficou com medo da PM prendê-lo e sua mulher descobrir que estava “mexendo” com travestis novamente. Como a quantidade de drogas era irrisória, não era o caso de conduzi-lo à DP, então nosso pregador viu naquele momento a oportunidade ideal de conquistar um prosélito.

 

Começou então a pregar falando da transformação que ele mesmo vivenciou, da vida nova, etc. Nesse momento a guarnição se afastou uns dez metros, pois já estavam fartos de sermões. Porém meus nobres, os sábios da antiguidade já diziam: “paisano é na caneta e não na conversa!”. Esse paisano era do tipo meio “folgado” e não se sabe o que ele disse para o pregador que os novinhos só ouviram um sonoro SPLAFT! Era o pregador pregando a mãozada na orelha do paisano.

 

O que se seguiu foi uma seqüencia de tapas, socos e chutes que só foi interrompida pela intervenção dos novinhos, pois temiam que ele matasse a “porra do paisano”. Quando conseguiram tirar ele de cima do cara, parecia que o homem havia sido atropelado por uma boiada. Todo vermelho, olhando nervosamente para os lados, tentando entender o que tinha acontecido. Depois que recobrou sua consciência, saiu correndo de perto do pregador com medo de nova seqüencia de “conselhos”. Ficou de longe gritando e falando que era um absurdo, e que ia denunciar, e que não sei o que lá. Então um novinho falou que era para ele ligar para a mulher dele pegá-lo na DP, que eles diriam a ela que ele estava com travestis. Aí o paisano ficou mais calmo e foi embora, com a marca da mão do pregador “pregada” na cara e prometendo não denunciar a guarnição.

 

Quando perguntaram a nosso furibundo pregador o motivo daquele destempero, ele respondeu todo calmo: “até Jesus se irou com os vendilhões do templo!”. Depois dos novinhos implorarem ao sargenteante para saírem da guarnição do pregador, o sábio sargento da companhia arrumou uma solução melhor: colocá-lo de rádio-operador no quartel. Hoje, nosso pacífico pregador anda por algum quartel desses de TTD levando a palavra do Senhor aos que Dela necessitam.

 

FIM

 

AVANTE PRAÇAS UNIDOS!

 

NÃO TEMOS TEMPO DE TER MEDO!

 

  


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