Bem meus nobres colegas virtuais. Outra
notícia que recebi da movimentada PM de Tão Tão Distante obrigou-me a sair de
meu marasmo costumeiro e ir ao computador relatá-la aos senhores. O fato,
segundo algumas testemunhas, aconteceu há uns sete anos no nosso já conhecido,
mal falado e magro batalhão da aldeia pioneira, a primeira aldeia desse
glorioso país.
Pois bem, vamos ao acontecido. Existia
nesse insalubre lugar um policial recém chegado de outro batalhão. Segundo
alguns era a trocentéssima vez que ele era transferido por problemas penais,
pessoais ou disciplinares. Era um negão alto, forte e caladão, não era desses
fortinhos de academia não, era forte de nascença mesmo. Cada mãozada que dava
em peba era uma rodopiada seguida por um tombo. Estava respondendo a uns três
homicídios. Mas dessa feita era um homem diferente. Era um homem totalmente
transformado pela fé. Havia renascido, como ele costumava dizer nas poucas
vezes que abria a boca.
Como nas viaturas não tinha vaga e no
PO ele se recusou a trabalhar, adotaram então o procedimento padrão nesses
casos: mandá-lo para as motos. Ficava caladão o serviço inteiro, só falava para
tacar um versículo da bíblia nos coleguinhas. Quando algum polícia proferia um
impropério ele logo vinha com um: “as más
conversações corrompem os bons costumes!”. Se um polícia olhava para a
bunda de alguma mulher bonita que passava ele jogava um: “qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já
adulterou com ela!”. Se passava um carrão e o guarda expressava desejo de
adquirir um, mesmo sendo um sonho distante, ele jogava um: “ o cobiçoso levanta contendas; mas o que confia no senhor prosperará.” Se alguém contava
uma vantagem, lá vinha um: “seja outro o que te louve, e não a tua boca; o estranho, e não os
teus lábios.” Quando alguém saia sem paciência de ouvir suas pregações ele usava
o: “o que desvia os seus ouvidos de ouvir
a lei, até a sua oração é abominável”.
E nessa toada o serviço prosseguia. Ninguém ousava censurá-lo,
pois além do restante da guarnição ser composta por novinhos 72 milhão, a fama
dele era de ser extremamente nervoso e alterado e aquilo de “homem novo” não
convencia muito não. Então num belo dia, na verdade já era noite, uma viatura
do setor comercial avisou pelo rádio que um carro se evadira ao avistá-la. Todo
mundo foi atrás dela e, finalmente, foi pega na L2 sul pelos MTs. Feita a
abordagem, constataram que o cidadão fugira por que estava com um cigarro de maconha
e ficou com medo da PM prendê-lo e sua mulher descobrir que estava “mexendo”
com travestis novamente. Como a quantidade de drogas era irrisória, não era o
caso de conduzi-lo à DP, então nosso pregador viu naquele momento a
oportunidade ideal de conquistar um prosélito.
Começou então a pregar falando da transformação que ele mesmo
vivenciou, da vida nova, etc. Nesse momento a guarnição se afastou uns dez
metros, pois já estavam fartos de sermões. Porém meus nobres, os sábios da
antiguidade já diziam: “paisano é na caneta e não na conversa!”. Esse paisano
era do tipo meio “folgado” e não se sabe o que ele disse para o pregador que os
novinhos só ouviram um sonoro SPLAFT! Era o pregador pregando a mãozada na
orelha do paisano.
O que se seguiu foi uma seqüencia de tapas, socos e chutes que só
foi interrompida pela intervenção dos novinhos, pois temiam que ele matasse a
“porra do paisano”. Quando conseguiram tirar ele de cima do cara, parecia que o
homem havia sido atropelado por uma boiada. Todo vermelho, olhando nervosamente
para os lados, tentando entender o que tinha acontecido. Depois que recobrou
sua consciência, saiu correndo de perto do pregador com medo de nova seqüencia
de “conselhos”. Ficou de longe gritando e falando que era um absurdo, e que ia denunciar,
e que não sei o que lá. Então um novinho falou que era para ele ligar para a
mulher dele pegá-lo na DP, que eles diriam a ela que ele estava com travestis.
Aí o paisano ficou mais calmo e foi embora, com a marca da mão do pregador
“pregada” na cara e prometendo não denunciar a guarnição.
Quando perguntaram a nosso furibundo pregador o motivo daquele
destempero, ele respondeu todo calmo: “até Jesus se irou com os vendilhões do
templo!”. Depois dos novinhos implorarem ao sargenteante para saírem da
guarnição do pregador, o sábio sargento da companhia arrumou uma solução
melhor: colocá-lo de rádio-operador no quartel. Hoje, nosso pacífico pregador
anda por algum quartel desses de TTD levando a palavra do Senhor aos que Dela
necessitam.
FIM
AVANTE PRAÇAS UNIDOS!
NÃO TEMOS TEMPO DE TER MEDO!
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